Por Amanda Carneiro
Em 2018, no contexto do ano dedicado às Histórias afro-atlânticas, Sonia Gomes fez sua primeira exposição em um museu em São Paulo. Também era minha estreia curatorial no MASP e juntas fomos desafiadas a dialogar com o modernismo de Lina Bo Bardi, autora do edifício, tanto no
espaço do museu, quanto na sua Casa de Vidro. Sonia estava produzindo novas esculturas que incorporavam pedaços de madeira, além de seus usuais tecidos. Eu pude acompanhar de perto e aprender muito com seu processo
artístico, vendo, a partir do olhar atento dela, que aqueles galhos e troncos foram esculpidos pela natureza, e são singulares em seus veios e volumes, em suas formas orgânicas e abstratas. Eu gostava de pensar que
as roupas e retalhos que a Sonia costurava e esculpia naquelas madeiras, de maneira tão cúmplice, somavam aos vestígios de afetos e memórias dos tecidos na longa duração da natureza. Essa relação orgânica acabou
refletida no espaço, as janelas descortinadas permitiam que o jardim se conectasse à galeria, e que a suspensão de seus pendentes fosse articulada com a suspensão do próprio edifício do MASP. A exposição se encerrou,
mas deixou sua marca na coleção do museu: a obra
Eros(2018), realizada especialmente para um cavalete de concreto e cristal no Acervo em transformaçãodo museu, foi generosamente doada pela artista. O trabalho registra essa conversaentre Sonia e Lina, que eu fui muito feliz em acompanhar.