MASP

El Greco

Êxtase de são Francisco com os estigmas, 1600

  • Autor:
    El Greco
  • Dados biográficos:
    Cândia, Grécia, 1541-Toledo, Espanha ,1614
  • Título:
    Êxtase de são Francisco com os estigmas
  • Data da obra:
    1600
  • Técnica:
    Óleo sobre tela
  • Dimensões:
    72 x 55 x 1,5 cm
  • Aquisição:
    Doação Diários Associados, 1947
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.00167
  • Créditos da fotografia:
    João Musa

TEXTOS



Domenikos Theotokopoulos, apelidado El Greco na Espanha, teve sua primeira formação em Creta, numa tradição artística de origem bizantina. Antes de 1567, mudou-se para Veneza, onde admirava, sobretudo, as pinturas da fase final de Ticiano (1488/90-1576) e os dramáticos efeitos de luz e espaço das obras de Tintoretto (1518-1594). Em 1575, transferiu-se definitivamente para a Espanha, estabelecendo-se dois anos depois em Toledo, antiga capital e grande centro intelectual, onde trabalhou especialmente em obras de temática religiosa. O Êxtase de são Francisco com os estigmasfaz parte de um conjunto de aproximadamente setenta obras assinadas pelo artista em torno da figura desse santo. Embora várias delas tenham sido atribuídas a seu ateliê, sabe-se que o próprio El Greco organizava suas pinturas em séries quase idênticas, repetindo temas, modelos e dimensões, com a finalidade de comercialização. Nesta obra, a figura de são Francisco é retratada com capuz, vestindo sua tradicional túnica marrom amarrada por cordas. Com a boca semiaberta e os olhos lacrimejantes voltados para um lampejo de luz no céu, o santo vive simultaneamente a elevação do êxtase e a dor dos estigmas, que podem ser notados nas chagas de Cristo, cujas marcas aparecem no centro de suas mãos alongadas.

— Equipe curatorial MASP, 2017





Assim como o tema do santo agonizante e confortado pelo Anjo, o tema de São Francisco em meditação penitencial ou em êxtase com os estigmas não deriva dos grandes ciclos franciscanos do Duecento, de Berlinghieri (1235) a Giotto ( c.1296-c.1300 e c.1320), mas faz parte da assim chamada segunda iconografia de São Francisco, criada pela propaganda pós-tridentina. Esta, como se sabe, não apenas se afasta da tradicional abordagem narrativa, desenvolvida a partir das fontes biográficas coevas de Tommaso Celano e São Boaventura (1263), mas sobretudo transforma radicalmente as características do jovem e risonho Poverello medieval, atribuindo-lhe feições envelhecidas e emaciadas, um misticismo afeito ao êxtase, bem como a obsessão pelo crânio, emblemático do contra-reformístico memento mori (Askew 1969, p. 280). É sabido que, por predileção pessoal ou de sua clientela, El Greco retornou a essa acepção específica da iconografia de São Francisco inúmeras vezes, das quais se inventariaram mais de setenta variantes (Frati 1969). O protótipo do Êxtase de São Francisco com os Estigmas de Cristodo Masp é provavelmente o exemplar que se encontrava outrora na capela San José de Toledo. Há diversas réplicas ou versões com variantes mínimas desta composição nos museus de Toledo – San Vicente e da Casa y Museu de El Greco –, na coleção do conde de Guendulain y del Vado em Toledo, também ela assinada (Frati 1969, p. 75b), na coleção Goudstikker em Amsterdã, em uma coleção privada em New Orleans e outra ainda no Museu de Pau, na França. Para Frati (1969, p. 75a), que desconhece, ou ao menos não menciona a versão do Masp, a versão de Pau deve ser considerada como a única autógrafa, as demais “devendo ser atribuídas a discípulos”. Para Wethey, ao contrário, essa versão de Pau denota larga participação do ateliê, o que parece justo, enquanto a do conde de Guendulain y del Vado, embora assinada, seria igualmente obra de ateliê. Dentre as versões examinadas, a do Masp é a de mais sutil pincelada, a mais refinada no jogo de claro-escuro e a mais convincente na caracterização psicológica da personagem. Nos termos em que a formulam San Juan de La Cruz e S. Teresa d’Ávila, a luz contemplada pelo santo é ao mesmo tempo claridade e escuridão, manifestação sensível e ocultamento, metáfora e presença do sagrado. Assim, o feixe de luz tenebrosa que se converte em uma língua de fogo, mais que iluminar, fulmina a estopa das vestes e o semblante do santo que recebe uma das mais pungentes imaginações de sua experiência mística, de êxtase e martírio simultaneamente. Segundo Wethey (1962), a obra em questão deve datar do início do século XVII.

— Autoria desconhecida, 1998


Fonte: Luiz Marques (org.), Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo: MASP, 1998. (reedição, 2008).



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