MASP

Aline Motta

Filha natural #2, 2019

  • Autor:
    Aline Motta
  • Dados biográficos:
    Niterói, Rio de Janeiro, Brasil, 1974
  • Título:
    Filha natural #2
  • Data da obra:
    2019
  • Técnica:
    Fotografia digital, impressão digital sobre papel de algodão
  • Dimensões:
    70 x 125 cm
  • Aquisição:
    Doação da artista, no contexto da exposição Histórias das mulheres, histórias feministas, 2019
  • Designação:
    Fotografia
  • Número de inventário:
    MASP.10846
  • Créditos da fotografia:
    Aline Motta

TEXTOS



No encontro entre relatos familiares e pesquisa documental, Aline Motta instaura um campo investigativo para trabalhar as narrativas de sua ancestralidade, seus antepassados e origens, alcançando contextos coletivos e reinventando memórias históricas das famílias no Brasil. Suas obras partem de uma sentença‑chave que nos faz refletir acerca da fragilidade dos discursos tidos como oficiais: “O quanto de ficção existe numa realidade?”. Entendendo o tempo como um movimento cíclico, Aline se movimenta através de indícios documentados pela história oficial, debruçando‑se em arquivos públicos e privados, viagens de campo, relatos orais, resquícios, pistas, hipóteses ou ficcionalizações. Filha natural (2018‑2019) conta a história de Francisca, sua tataravó, que foi escravizada em uma fazenda cafeeira em Vassouras (Rio de Janeiro). Um atestado de óbito encontrado durante pesquisas sobre essa cidade e as lembranças fragmentadas de parentes próximos trazem à tona uma análise inédita da iconografia da escravidão, que costura a memória pessoal de sua família com uma memória coletiva, cuja narrativa foi retraçada pela artista através de suas investigações em documentos de época e arquivos públicos. Ao criar uma sobreposição de tempos entre o período imperial e o presente, Aline evidencia a relação ancestral que existe entre as mulheres negras, por compartilharem histórias em conexão, iniciando‑se na África, passando pela diáspora, escravidão e a realidade atual da população negra no Brasil. Na obra, uma líder comunitária de Vassouras, Claudia Mamede, aparece como um fantasma que observa o passar dos anos em uma icônica fazenda dessa região, possivelmente, a mesma retratada em fotografias históricas do local de morada dos antepassados da artista. A necessidade de reviver existências que foram apagadas da história, valendo‑se de alto rigor formal e da liberdade na experimentação de linguagens, que migram entre literatura, livros de artista, vídeo, fotografia e performance, faz da obra de Aline uma evidência das urgências do presente, um tempo em que nossas histórias precisam ser contadas por aqueles que foram e ainda são forçosamente silenciados.

— Beatriz Lemos, mestre em história social da cultura, PUC‑RJ, 2019

Fonte: Adriano Pedrosa, Isabella Rjeille e Mariana Leme (orgs.), Histórias das mulheres, Histórias feministas, São Paulo: MASP, 2019.



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