Joaquín Torres-Garcia foi pintor e teórico, que, a partir dos anos 1930, ajudou a difundir as tendências abstrato-geométricas na América Latina. Formou-se em Barcelona e morou por muitos anos entre Espanha e França,
onde foi um dos organizadores da revista Cercle et Carré, entre 1929 e 1930. Essa revista apresentava textos sobre arte e arquitetura de tendência construtiva. Em 1934, Torres-Garcia voltou para Montevidéu, onde
relançou a revista com o título Círculo y Cuadrado (1936-43) e fundou a Asociación de Arte Constructivo, em 1935. A obra do MASP antecede esse período. Contudo, anuncia as intenções da sua “teoria do universalismo
construtivo”, como a sobreposição das formas orgânicas e geométricas e a busca pela sensação de movimento na representação de cenas estáticas. Igreja em Terrassa foi pintada durante os anos em que o artista morou no
vilarejo de Terrassa, próximo de Barcelona. A pintura representa a parte posterior de um conjunto arquitetônico com uma catedral, casas e muros. Torres-Garcia optou por não representar as fachadas, mas o verso dos
edifícios, construindo, com este ponto de vista incomum, uma sensação de intimidade com esse local. O céu muito claro contrasta com os tons escuros dos muros; o vento aponta para a esquerda, conduzindo tanto as
nuvens como os ciprestes; as largas pinceladas levam os tons dos blocos a variarem, criando uma paisagem dinâmica e, ao mesmo tempo, muito tranquila.
Entre 1914 e 1919, Torres-García reside em Tarrasa, pequena cidade a noroeste de Barcelona, o que, fossem insuficientes os indicadores de estilo, permite datar com segurança a obra deste qüinqüênio. Em
Igreja de Tarrasa, embora a demarcação das linhas da arquitetura, não mais que a planeidade e a planimetria das paredes da igreja e do casario, anunciem de modo palmar o construtivismo abstrato do decênio sucessivo, as notações
líricas do jogo das manchas, dos diferenciais de luz na angulação dos muros, a presença meditativa dos ciprestes ligeiramente batidos pelo vento, o tratamento das nuvens em formações instáveis etc. revelam em
Torres-García a sensibilidade de um verdadeiro paisagista, no melhor sentido desta tradição.