Por Raphael Fonseca
Debruçar-se sobre a obra de Regina Gomide Graz se faz necessário por diversos fatores: a valorização das artistas mulheres na história da arte no Brasil, o reconhecimento da experimentação com a arte têxtil em diversos contextos históricos e a forma como ela dialogava com as culturas dos povos originários pelo viés da alteridade cultural. Nascida em Itapetininga, São Paulo, a artista foi criada parcialmente na Suíça, onde estudou na Escola de Belas-Artes de Genebra, instituição célebre por valorizar as chamadas artes decorativas. Quando retornou ao Brasil em 1920, Gomide Graz deu prosseguimento ao seu interesse pela produção têxtil e passou a vender seus trabalhos para a elite paulistana. Índios, obra dos anos 1930, é um trabalho criado a partir da colagem de diversos recortes de feltro que geram uma cena que vai ao encontro das muitas narrativas cristalizadas a respeito da vida e cotidiano dos povos originários no Brasil. Realizado depois de uma série de estudos feitos a partir de 1923 sobre a tecelagem de comunidades da região do Alto Amazonas, é curioso observar como este trabalho datado do século 20 dialoga com outro de dois séculos antes, uma vez que ambos apresentam imagens de indígenas sem a identificação de seus povos em suposta harmonia com a natureza: trata-se da tapeçaria O índio caçador (1723-30), da Manufatura de Gobelins, na França, que, assim como a pintura de Gomide Graz, integra o acervo do MASP.
— Raphael Fonseca, doutor em Crítica e História da Arte, UERJ, 2021