MASP

Jean-Marc Nattier

Madame Marie-Louise-Thérèse-Victorie de France - A água, 1751

  • Autor:
    Jean-Marc Nattier
  • Dados biográficos:
    Paris, França, 1685-Paris, França ,1766
  • Título:
    Madame Marie-Louise-Thérèse-Victorie de France - A água
  • Data da obra:
    1751
  • Técnica:
    Óleo sobre tela
  • Dimensões:
    97 x 137 x 3 cm
  • Aquisição:
    Doação Congresso Nacional, 1952
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.00050
  • Créditos da fotografia:
    João Musa

TEXTOS



Desde os 15 anos, Nattier já era premiado como artista e atendia a muitas encomendas privadas. Em 1718, após retratar Catarina, a Grande (1729‑1796), imperatriz da Rússia, recusou o convite para se estabelecer na corte em São Petersburgo. Foi então aceito como pintor de temas históricos na Académie Royale de Paris. Nattier é um dos maiores retratistas de sua geração, caracterizada pela renovação da imagem da mulher, dada sua crescente importância na vida intelectual e cultural francesa no século 18. Seus retratos reiteram o ideal da nobreza, através de simbolismos e da ostentação da riqueza, evidenciada pelos tecidos como o veludo e o cetim coloridos, que eram muito custosos e demarcavam papéis sociais. As pinturas do MASP reúnem quatro das filhas do rei Luís XV. Cada uma delas é associada a um dos quatro elementos, identificados pelos atributos do globo, do fogareiro, do pavão e da ânfora. A mais velha, Louise-Elisabeth, é associada à terra; Anne-Henriette, ao fogo; Marie‑Adélaïde, ao ar; Marie-Louise-Thérèse-Victoire, à água. As obras decoravam uma sala no Palácio de Versalhes, residência da corte francesa à época.

— Equipe curatorial MASP, 2017





Dos quatro retratos – Madame Louise-Elisabeth, Duquesa de Parma (Madame l’Infante), A Terra; Madame Anne-Henriette de France, O Fogo; Madame Marie-Adélaïde de France, O Ar; e Madame Marie-Louise-Thérèse-Victoire de France, A Água – o de Anne-Henriette é o único em que o modelo não se situa em um externo. Toda eventual contaminação entre o fogo-elemento e o fogo como tipo temperamental, de origem igualmente antiga, é anulada pelo jogo da sacralização da personagem, situada para tanto em um templo e convertida em galante vestal, acólita de Vesta, imagem que se vê ao fundo. Três elementos reiterativos desta construção alegórica são o véu que cobre parcialmente a cabeça de Madame Anne-Henriette, a bela edição da curiosa Histoire des Vestales, obra que aguarda ainda uma melhor identificação, e a pira de bronze, deliciosamente rocaille, sobre a qual arde o fogo do lar. A posição da mão sob o queixo pode contribuir para uma imagem em que se aliam graça e meditação, conveniente aos jogos do modelo com o sagrado. Os versos da gravura de 1757 de Tardieu explicitam definitivamente a operação alegórica: “Ma Sphère est au plus haut des Cieux / La Terre me reçut comme un don precieux / L’atrait d’une force divine / Me rappelle a mon origine”. A moda dos retratos em vestal fora lançada por Jean Raoux, pintor que precede Nattier no gênero dos retratos alegórico-mitológicos, e parece ligar-se a uma reação contra a corrupção reinante durante a Regência. Aludindo a esta conotação, Diderot escrevia: “Une Vestale est un être en même temps historique, poétique et moral”. A princesa reaparece como vestal em pelo menos um outro retrato de autoria de Nattier (Louvre, coleção La Caze), conhecido como Fille de Louis XV en Vestale, hoje em depósito no Musée de Pau. Madame Henriette, como era chamada, morreu no ano seguinte ao deste retrato. Madame Marie-Adélaïde recebeu esse nome em homenagem à avó, mãe de Luís XV, Marie-Adélaïde de Savoie. Na qualidade de figura alegórica do ar, ela é representada com o manto azul da atmosfera celeste. Como Juno, além disso, ela percorre os céus em seu carro triunfal, conduzido por pavões. É a única figura representada em contraposto, talvez alusivo aos movimentos dos ventos, o que em todo caso põe em evidência a graça extraordinária de seu braço, destacado de seu corpo, até a ponta do dedo mínimo. Sob a gravura de Beauvarlet, lê-se: “Sur moy tous les yeux sont ouverts, / Tout ce qui respire m’encense; / J’aime a verses dans L’Univers / Une salutaire influence”. O atributo da urna ou ânfora, sobre a qual se apóia o corpo reclinado, remete naturalmente à iconografia das deidades fluviais, tais como foram transmitidas pelas representações antigas e renascentistas. A escolha deste atributo para Victoire de France, bem como o texto abaixo, referem-se à reputação de particular candura e religiosidade da irmã caçula. O texto da gravura de Gaillard é: “Sur d’éternelles lois je mesure ma course / Avec plus de lenteur ou de rapidité; / Toujours avec la pureté / Que l’on admire dans ma Source”.

— Autoria desconhecida, 1998

Fonte: Luiz Marques (org.), Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo: MASP, 1998. (reedição, 2008).



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