Ao lado da Virgem, em Madona com o Menino no Trono e Quatro Santos, postam-se São Juliano (?), São João Batista, Santo Antônio Abade e São Tiago Maior. Ao centro, o vaso com os lírios simboliza a imaculabilidade de Maria, a quem Cristo estende o pergaminho que pregura o sacrifício. O manto e as vestes da Virgem foram completamente repintados, mas nas guras de Cristo e sobretudo dos santos conservam-se bem os ritmos di vagantes e o modelado cromático que fazem desta obra um estimulante exemplo da riqueza do gótico internacional em sua acepção orentina, ao tempo de Lorenzo Monaco. A obra foi atribuída ao pintor orentino Rossello di Jacopo Franchi (1376-1456) por Berenson (1932, p. 186), atribuição acolhida por Bardi (1948) e constante até hoje na documentação do museu. Já em 1933, contudo, Oner problematizava a identidade deste pintor, reorientando parte de seu catálogo para uma personalidade anônima sua, então chamada Maestro della Crocissione Griggs. Em 1966, Bellosi identicava enm essa personalidade com o pintor Giovanni Toscani, cujo desenho neogiottesco é denitivamente estranho à delicadeza gótica de nosso pequeno retábulo. Em data mais recente, o catálogo de Rossello di Jacopo Franchi foi objeto de uma tese de doutorado para a Indiana University, da autoria de Carol Peters que, rejeitando justamente a atribuição do altar do Masp a Rossello, qualifica genericamente a obra como da autoria de um “pintor provinciano do primeiro Quatrocentos” (1981, p. 304). Ao primeiro exame de uma fotograa da obra, o professor L. Bellosi não hesitou contudo em retirá-la do anonimato. Trata-se, na realidade, do assim chamado Maestro del 1416, que toma o nome de um retábulo desta data conservado na Galleria dell’Accademia de Florença, cujo perl estilístico, estudado primeiramente por Zeri (1968, pp. 66-70), apresenta tal continuidade com o de Lorenzo di Niccolò di Martino, que se poderia assimilá-lo à tardia atividade deste pintor, erroneamente considerado lho de Niccolò di Pietro Gerini (Fahy 1978, p. 376; Maetzke 1986). Já Zeri, no artigo citado, acreditando conservar-se nossa obra ainda na coleção do príncipe Fabrizio Massimo, em Roma, havia atribuído nossa pequena Madona ao Maestro del 1416 (1968, p. 69). Como Zeri, Boskovits – que conrma a atribuição desse pequeno altar ao Maestro del 1416 (comunicação oral, 22/1/1996) –, não identica este Mestre com Lorenzo di Niccolò di Martino, embora reconheça estreitas anidades estilísticas entre ambos. Para a inserção de nossa obra no catálogo deste artista, importa observar as semelhanças extremas com um idêntico altar conservado nas reservas das Galerias Florentinas, que Zeri data entre 1410 e 1415, o que fornece um parâmetro cronológico preciso à datação de nossa obra.
— Autoria desconhecida, 1998