As primeiras notícias sobre a vida de Frans Hals contam que sua família se mudou da Antuérpia para Haarlem, na Holanda, em 1585, fugindo da ocupação espanhola e das ferozes perseguições aos protestantes por parte dos
católicos. Hals entrou para a guilda de artistas da cidade em 1610 e, rapidamente, conquistou reconhecimento e uma numerosa clientela entre os burgueses abastados. Sua vocação naturalista se manifestava na
representação de cenas cotidianas e nos retratos individuais e coletivos, sua especialidade, executados por encomenda, ou motivados apenas pelo interesse no caráter e na fisionomia dos modelos. A técnica de Hals visa
traduzir o tema de forma imediata e viva, com pinceladas rápidas e irregulares, deixando emergir por meio do toque a condição emotiva do artista. Tal procedimento pictórico foi um importante legado para o realismo
moderno, do século 19.
Os retratos
O capitão Andries van Hoorne Maria Pietersdochter Olycan, sua segunda esposa, foram realizados por ocasião do casamento, em 1638. Ambos pertenciam a ricas famílias de produtores de cerveja de Haarlem. Nos retratos, há precisão nos detalhes e também certa informalidade na
apresentação das personagens, que em nada compromete a evidência de sua posição social. O capitão Andries foi retratado por Hals também na tela representando o banquete dos oficiais da milícia de santo Adriano
(1633), eleitos entre os notáveis da cidade de Haarlem, e foi prefeito da cidade em 1655.
Desde a década de 1630, Hals trabalha regularmente para a família do sogro de Andries van Hoorn, Jacob Pietersz Olycan (cinco vezes burgomestre), para a qual realiza pelo menos nove retratos (Descargues 1968, p. 55),
entre os quais o de Maria Herster Pietersdr, nascida em 1608 e uma das quinze filhas do casamento de Jacob Pietersz com Maritge Claesdr Vooght. A aliança entre os Olycan e os Van Hoorn, em 1638, como de resto entre
ambas as famílias e os Vooght e os Loo, os grandes clãs da cerveja em Haarlem, nada tinha de inesperado, e Hals é freqüentemente escolhido para servir este primeiro círculo da elite burguesa da cidade. A outros
retratistas, como Johannes Vers-pronk, Pieter Claesz Soutman ou Pieter Fransz de Grebber, cabia atender uma clientela menos poderosa, como os Loreyn, os Van der Cruysse e os Croes ou as grandes famílias católicas
(Beisboer,
inSlive 1989, p. 35).