Teresinha Soares é uma das principais artistas que trabalharam com arte e feminismo no Brasil nos anos 1960 e 1970 e cuja obra tem caráter contestatório, transgressivo e abertamente erótico. O curto, porém intenso, período produtivo da artista, entre 1966 e 1976, resultou em um conjunto variado que reúne pinturas sobre diferentes suportes, relevos, caixas‑ objeto, serigrafias, livros de artista e desenhos. A obra pode ser contextualizada tanto no marco da nova figuração dos anos 1960 — permeada por referências ao pop, à publicidade e à sociedade de consumo — quanto no da arte política. Nos últimos anos de produção, Soares realizou também instalações e performances polêmicas que se desdobravam em verdadeiros eventos com a participação do público. Morra usando as legítimas alpargatas é um relevo em madeira pintada de grande formato, que faz parte de uma série que representa o auge da pesquisa da artista em pintura objetual. Com cores chapadas e figuras recortadas, essa série condensa vários de seus motivos, como o corpo, a liberação sexual e a crítica aos costumes. Nessas obras, Soares aborda a Guerra do Vietnã (1954-1975) — conflito armado que ocorreu no auge da Guerra Fria e que opôs os aliados do bloco soviético contra os anticomunistas liderados pelos Estados Unidos. Sob um viés irônico, a artista justapõe o imaginário da violência a motivos sexuais e da cultura de massa. Na obra do MASP, corpos nus entrelaçados são enquadrados por um aparelho de televisão, referência ao poder dos meios de comunicação na circulação da propaganda de guerra.
— Equipe curatorial MASP