A cultura Zenú floresceu por volta de 200 a.C. nas planícies inundáveis caribenhas, entre os rios Sinú e San Jorge, ali permanecendo por cerca de 1300 anos. Um dos alicerces desta longa tradição foi o desenvolvimento de canais artificiais de irrigação, que permitiram o melhor aproveitamento dos recursos advindos da região pantanosa, somado à produção de cultivares em maior escala. Informações relatadas por seus descendentes após a invasão espanhola, no século 16, sugerem que durante seu apogeu o território Zenú estava dividido em três províncias com relações socioeconômicas complementares. Entre os elementos mais conhecidos do material arqueológico Zenú estão artefatos em metal produzidos pela técnica de fundição por cera perdida e o uso da tumbaga. A tumbaga é um liga de ouro e cobre, que era fundida em cadinhos de argila e posteriormente tratada com substâncias ácidas, de forma que os componentes superficiais em cobre se dissolviam, dando um aspecto semelhante ao ouro puro na peça acabada. Seguindo a vocação regional para o desenvolvimento da tecnologia metalúrgica, que ali chegou há aproximadamente 2500 anos, os ourives Zenú utilizavam moldes confeccionados com cera de abelha, técnica que lhes permitiu a realização de uma variada gama de peças, com diferentes estruturas e acabamentos. Nestes brincos, observamos um exemplar da falsa filigrana, estilo recorrente entre os adornos que compunham a indumentária de chefes e outras figuras de prestígio. Os adornos corporais em metal representam um dos principais legados da cultura material Zenú hoje salvaguardada não apenas nos museus colombianos, mas em coleções que compõem acervos dos mais renomados museus internacionais, a exemplo do Metropolitan Museum of Art, em Nova York, e do British Museum, em Londres.
— Marcia Arcuri, curadora adjunta de arte pré-colombiana, MASP, 2021