Por Luciano Migliaccio
O Ateliê do Estatuário Simões de Almeidaé de uma homenagem que Malhoa faz ao escultor Simões de Almeida (1844-1926), que foi seu mestre e de toda uma geração de artistas naturalistas na Escola de Belas-Artes de Lisboa. Simões de Almeida foi o primeiro
pensionista de escultura em Paris no ateliê de Jouffroy e de Mercier. Depois estudou em Roma. Desde 1881, foi professor de desenho na Escola de Belas-Artes de Lisboa, e, desde 1896, professor de escultura. Nesse
quadro o escultor é retratado enquanto realiza a transposição em mármore da figura de Pedro Álvares Cabral, encomendada em 1882 para o Gabinete de Leitura no Rio de Janeiro. A cena revela o ambiente despojado da
oficina, os instrumentos de trabalho, os compassos e o pó de mármore. A estrutura do andaime de madeira articula o espaço do quadro, acentuando a contraposição entre o tamanho enorme da pedra e o trabalho do artista.
Atrás do mármore branco percebe-se, quase escondido, o modelo em argila. A comparação entre os dois interiores de ateliê realizados por Malhoa, o do quadro anterior e este, pintado um ano antes, sugere quase a
intenção de um
paragoneentre as duas artes, a pintura e a escultura, traduzido em termos visuais. De um lado, a fadiga física, a luta do escultor com a pedra, num ambiente onde parece ouvir o bater do martelo e ver as lascas brancas do
mármore voar, e, de outro lado, a meditação silenciosa do pintor diante do modelo, os tapetes e os panos coloridos iluminados pela chama da estufa.