MASP

Paul Cézanne

Paul Alexis lê um manuscrito a Zola, 1869-70

  • Autor:
    Paul Cézanne
  • Dados biográficos:
    Aix-en-Provence, França, 1839-Aix-en-Provence, França ,1906
  • Título:
    Paul Alexis lê um manuscrito a Zola
  • Data da obra:
    1869-70
  • Técnica:
    Óleo sobre tela
  • Dimensões:
    133,5 x 163 x 2,7 cm
  • Aquisição:
    Doação Congresso Nacional, 1952
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.00086
  • Créditos da fotografia:
    João Musa

TEXTOS



[Laura Cosendey escreveu texto]




Por Felipe Martinez
Um homem lê um manuscrito para outro que, como um mestre, avalia o que está sendo lido. O leitor é o poeta e escritor francês Paul Alexis (1847-1901), que submete seu trabalho à avaliação de Émile Zola (1840-1902), um dos maiores autores franceses do século 19. O pintor, Paul Cézanne (1839-1906), é o personagem oculto dessa cena, pintada entre 1869 e 1870. Zola e Cézanne tinham uma relação bastante próxima, saíram juntos do sul da França para tentar a vida na capital. Enquanto Zola conheceu o sucesso desde cedo, Cézanne só seria reconhecido ao final de sua vida. A amizade entre eles ficou abalada após a publicação do romance A Obrade Zola, em 1886, cujo protagonista — um pintor fracassado — foi parcialmente inspirado em Cézanne. A pintura do MASP é uma das poucas obras em que vemos Zola representado pelos pincéis do amigo. Ela foi abandonada pelo artista em razão da Guerra Franco-Prussiana e encontrada na casa do escritor em 1927. Nela, estamos longe das pinturas que inspirariam Picasso no começo do século seguinte. Suas cores fazem pensar mais em Manet, que também pintou Zola. Outra obra, feita por Cézanne pouco antes, mostra a mesma cena. Nessa outra composição, evoca-se os mestres holandeses, o clima é menos solene do que na pintura do MASP, na qual a liderança de Zola, conhecido por suas posturas públicas corajosas, fica evidente. Cézanne, ao contrário, tinha seu processo artístico permeado pela dúvida, como pontuou Merleau-Ponty. Curiosamente, na pintura do MASP, é o corpo de Zola que aparece inacabado com pinceladas hesitantes.

— Felipe Martinez, doutor em História da Arte, Unicamp, 2021





Por Luciano Migliaccio
No quadro do Masp Paul Aléxis Lê um Manuscrito a Zola, vemos Zola recebendo no pavilhão de sua casa, na rue Condamine, um dos seus primeiros admiradores: Paul Alexis (1847-1901), jornalista e escritor de romances, defensor constante do impressionismo e do neo-impressionismo, que consagrou ao chefe do naturalismo um importante estudo em 1882. A tela foi encontrada num depósito da casa de Zola, em Médan, após a morte da mulher do escritor, em 1927. Deve ter sido pintada entre setembro de 1869, época em que Paul Alexis chegou a Paris, e agosto de 1870, data em que Paul Cézanne e Émile Zola deixaram Paris e seguiram para o sul da França. Numa coleção particular em Zurique há uma outra tela representando uma figura que lê no interior da casa de Zola, datável, segundo Gowing, provavelmente entre 1867 e 1869 (1987/1988, p. 156). São conhecidos três desenhos preparatórios relativos a essa última obra. O primeiro pertenceu à coleção de Sir Kenneth Clark, os outros dois não têm localização conhecida. Wayne Andersen ressalta nos desenhos a evolução da composição de Cézanne, a partir de modelos da pintura holandesa de interiores, como os de De Hooch. O quadro do Masp apresenta uma situação e um estilo radicalmente diferentes: a composição tem um desenvolvimento horizontal em vez de vertical, as figuras estão colocadas no exterior, sentadas no chão, numa pose que lembra as pinturas de Manet, assim como a construção de amplas áreas achatadas e a escolha das cores. A idéia da composição talvez seja do próprio Zola, pois ele sempre quis representar o papel de fundador de uma escola e teve o hábito, desde sua juventude, de reunir seus amigos artistas e literatos, Cézanne, Valabrégue, Solari, Alexis, todos oriundos da mesma região de Aix. Cézanne deixou este quadro por terminar, talvez por causa do início da guerra entre a França e a Prússia, que o obrigou a refugiar-se na Provença. A pose de Zola lembra a de um déspota oriental (Howard) ou de um filósofo, a cabeça e o torso deixam transparecer o grão da tela e o desenho livre que formou a base da composição de Cézanne. Muitas das formas visíveis nas partes acabadas eram destinadas a ser modificadas de acordo com as exigências do artista, que improvisava diretamente na tela a partir de uma idéia inicial.

— Luciano Migliaccio, 1998


Fonte: Luiz Marques (org.), Catálogo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo: MASP, 1998. (reedição, 2008).



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