Por Guilherme Giufrida
Pertencente ao acervo MASP, a obra Paz e concórdia, realizada em 1895 pelo pintor brasileiro Pedro Américo, é um esboço para a última obra monumental do artista, de 1902, comissionada pelo governo republicano de Prudente de Morais (1841-1902), segundo presidente do Brasil. Américo é considerado um dos principais nomes da pintura histórica na arte brasileira do século 19, além de também ter sido historiador, crítico de arte e político. Por um lado, a pintura do MASP explicita o discurso oficial do governo da época, que buscava forjar na proclamação da república uma imagem de ruptura ou revolução—quando, como se sabe, foi instaurada por um golpe; por outro, Américo distribui no quadro elementos que evidenciam os seus elos de continuidade conservadora com o passado por meio de uma série de alegorias. A Paz, como anjos brancos, e a Concórdia, em cortejo de artistas, saúdam o início da República, representada como uma mulher, e ainda o fim da escravidão, representado por um diabo morto ao chão. Os louros ao novo regime remetem a representações da coroação de Pedro I (1798-1834) e a estátua de dragão, símbolo dos Bragança, à família real do Brasil monárquico. Ao fundo, há ainda um grande edifício, dentro do qual encontra-se Independência ou morte!, exposto sob um arco evocando um triunfo militar.
— Guilherme Giufrida, curador assistente, 2021