Filiado ao antigo Partido Comunista do Brasil (PCB) desde 1928, Emiliano Di Cavalcanti defendeu uma pintura politicamente comprometida, como ferramenta para representar e valorizar o trabalho, os costumes e os tipos
populares. Procurou desenvolver uma forma de pintar e uma temática voltadas à construção de uma identidade pictórica nacional. Em
Pescadores(1944), Di Cavalcanti pinta com grandiosidade os gestos amplos e solenes dos personagens — que ocupam quase toda a tela —, conferindo-lhes relevância e dignidade. Suas pinturas daquele momento revelam o contato com o
expressionismo alemão, e principalmente com a obra de George Grosz (1883-1959), marcada por uma crítica social ácida e caricaturesca, pelo universo boêmio e pelos corpos deformados em tons sóbrios. Nesta tela, Di
Cavalcanti busca apreender certo modo de vida da sociedade brasileira, valorizando as atividades ligadas às culturas tradicionais. Pinta com integridade e beleza o trabalho da pesca, tema que atravessa a sua obra.
Nota-se o cuidado com a representação do resultado do trabalho coletivo: os peixes. Veem‑se diferentes padronagens nesta pintura: o fundo preto com pinceladas marrons, as listras da calça, a geometria dos tijolos, o
trançado das cestarias, o ripado da madeira e as escamas dos peixes — pintadas em tons iluminados de prata, amarelo e verde. A trabalhadora parece manipular um tecido branco, que percorre a composição, protegendo a
barraca onde os peixes são comercializados.