Benedito Calixto passou a infância no litoral paulista. Foi pintor e historiador, e escreveu diversos ensaios sobre a história de São Paulo. Realizou pinturas de temáticas históricas e religiosas, mas talvez a sua
maior contribuição seja o estudo e o registro das cidades de São Paulo, Santos e São Vicente, que, na transição do século 19 para o século 20, passavam por intensas transformações marcadas pelo início da
industrialização. Calixto pintou várias vezes as mesmas vistas litorâneas ou urbanas a partir de uma mesma pesquisa ou uma mesma fotografia de referência. Foi o caso de
Rampa do Porto do Bispo em Santos, que tem duas versões anteriores a essa, uma de 1886 e outra de 1887. Se as suas obras são representações realistas, registros quase documentais de uma época, elas foram realizadas posteriormente, sem uma observação
direta da paisagem, prática que demonstra a preocupação com a fixação de um momento passado recente. A obra do MASP apresenta um amplo panorama realizado em tons rebaixados de um cais, no qual as embarcações e os
navios estão ancorados. Uma rua beira o cais, com uma sucessão de casas que dirigem o olhar para as montanhas ao longe e o céu azul-claro que ocupa a parte superior da pintura, o que enfatiza a profundidade dessa
paisagem com um amplo horizonte. Apesar da intensa atividade comercial e industrial de um porto, é como se esse cenário, com resquícios de arquitetura colonial, houvesse parado no tempo.