Por Nelson Aguilar
As personagens de Modigliani possuem um comportamento gótico, longilíneo, tal qual um girassol procurando as alturas, a fim de celebrar o heliotropismo, conforme se pode notar nos outros cinco retratos do acervo do Masp – Madame G. van Muyden, Renée, Chakoska, Retrato de Leopold Zborowski, Lumia Czcchwska. O Retrato de Diego Rivera infringe a regra, explodindo o formato em dois ritmos concêntricos que qualificam a figura exuberante do muralista mexicano. O artista se vale da técnica divisionista, multiplica as pinceladas, criando uma construção em vitral, elaborada em número de ouro. O quadro é tão inacabado quanto as aquarelas de Cézanne: o vazio presente na coloração ocre do papelão é incitado pelas correntes negras e prateadas e se torna território habitado pelo sentido gestual. O pintor, pela freqüentação com obras de artes milenares, possui profundo conhecimento do cerimonial. A abertura da Escola de Paris, diante da riqueza do que foi recalcado por toda a cultura acadêmica desde o Renascimento, permite reconhecer o culto solar, pré-colombiano, que Rivera iria reverenciar regressando ao país.
Mais do que retrato, o óleo é a antecipação destinativa do modelo, operada tão-somente pela permeabilidade transcultural de Modigliani, aprendida com Brancusi, que iria impressionar também Tarsila do Amaral. Consultado pelo Masp, em 1953, Rivera declara que o quadro foi feito em seu ateliê, em Montparnasse.
— Nelson Aguilar, 1998