Segundo uma nota de Camesasca conservada na documentação do museu, o Retrato de Gianfranco Contini aos Dezesseis Anos e uma Marinha foi identificado pela grande romancista e poeta romana Elza Morante (1918-1985) como sendo o de Gianfranco Contini (1912-1992), tradutor, crítico literário e historiador da literatura, dentre os mais importantes de
nosso século. Os dados fisionômicos são bastante confirmatórios, embora a data do quadro suponha a presença provável de Contini em Paris, em 1928, que, na realidade, é de algum modo confirmada pelo próprio Contini,
em sua autobiografia em forma de entrevista a Ludovica Ripa di Meana (Diligenza e Voluttà, Milão, 1989, pp. 53-54): “Fui amigo de De Pisis, homem finíssimo e de grande bondade sob espécie de um corpo trivial e
vicioso. Freqüentei-o muito em Paris e vi aos poucos transformar-se seu estilo, de pinceladas rápidas em maneiras interessantíssimas, às quais talvez não se tenha dado a devida atenção. Dizia-se pintor razoável, mas
sobretudo poeta, e talvez acreditasse um pouco nisso”.
O retrato admirável de Contini é um dos mais intensamente conscientes do potencial expressivo das tonalidades plúmbeas exploradas naqueles anos em Paris, sobretudo por Vlaminck. As relações com o pintor francês
deviam ser encorajadas inclusive pela freqüentação de um mesmo ambiente intelectual, em Paris, mediado por figuras como Waldemar George que, exatamente em 1928, dedica uma interessante monografia a De Pisis.