Madalena dos Santos Reinbolt iniciou sua produção pintando telas com tinta óleo e, posteriormente, dedicou-se ao têxtil, emoldurando extraordinárias tramas bordadas. Em seus "quadros de lã", figurou cenas de ambientes rurais, com variada e idílica representação da vida cotidiana, particularmente ligada aos modos e costumes afro-brasileiros. Também expressou sociabilidades que mesclam o sagrado e o profano, seja em torno de refeições coletivas ou de uma pequena igreja. A artista mesclou o bordado a questões de natureza formal, enquadrando uma produção vista como artesanato—uma interessante provocação em torno do cânone—e reafirmando a singularidade de seu estilo. Nota-se um esmero com a composição dos quadros, uma minúcia aos detalhes e o uso de fios de lã que compõem um complexo e vibrante conjunto cromático. Nesta tela, o céu noturno é preenchido por estrelas em torno da lua cheia. Uma linha branca delimita o terço superior do quadro, que é ocupado por parte da paisagem no lado esquerdo. Um grupo de pessoas bem próximas umas às outras se alinha para observar os peixes e pássaros, todos envoltos pela vegetação desse ambiente que evoca o encontro. Desde muito cedo, Reinbolt se dedicou ao ato de tecer, mas foi somente após atingir a maturidade que passou a produzir telas ou quadros. Antes do advento da indústria têxtil, bordar foi um ofício largamente atribuído às mulheres e associado ao espaço doméstico. Na década de 1960, quando a artista iniciou sua produção, o bordado foi revisto, com força de denúncia, pela história da arte. Nos anos 1970, Reinbolt ganhou alguma proeminência e ainda hoje sua produção coloca questões ao cenário artístico que precisam ser ampliadas, numa perspectiva mais plural e diversa da história da arte.
— Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP, 2021