Formado em arquitetura e com experiência de trabalho no campo da publicidade, Emmanuel Nassar, a partir do início da década de 1980, conduziu sua produção para a pesquisa da comunicação visual urbana, especialmente
do Pará, onde vivia. Estabeleceu um diálogo também com as correntes construtivas, presentes na arte brasileira desde os anos 1950. Em uma mesma composição, Nassar mistura representações estilizadas de objetos
heterogêneos: luzes, roletas, pombinhas, cirandas, além de ornamentos de residências, barracas e vitrines. Esses elementos são traduzidos e pintados em formas gráficas como círculos, triângulos e losangos coloridos,
dispostos graficamente sobre grandes campos de cor. Organiza as composições com simetria, marcando-as com formas geométricas e simplificadas, linhas horizontais e verticais, e cores primárias sobre um fundo comum,
como se vê em
Sem título(1986). Miniaturas dos objetos destacados, neste caso um losango e um pássaro, distribuem-se harmonicamente sobre o vasto espaço da pintura. Essa ordenação é atenuada pelo traço da mão, informal e livre, evidenciando
a tensão entre, por um lado, o caos e o improviso; por outro, a ordem e o equilíbrio. Essa pintura pode aludir, ainda, à bandeira brasileira, remontando suas formas e cores, adicionando-lhe novos elementos. Nassar
produz obras que parecem bandeiras ou anúncios pintados à mão. Muitas vezes suas obras aludem a mapas, com coordenadas, números e pontos cardeais bem demarcados — como as iniciais do pintor, manuscritas em algumas de
suas pinturas. O artista discute o espaço, o caráter plano e bidimensional, e as latitudes da pintura. Está interessado na transformação de materiais em significados; para ele, todo símbolo é um marco de localização.
Nassar insere, assim, imagens em novos enredos, produzindo redistribuições de sentidos e identidades, que flutuam sobre suas telas.