Quando León Ferrari chegou ao Brasil em 1976, escapando da ditadura na Argentina, ele já havia consolidado uma carreira de 30 anos e se destacava como um dos principais representantes das vanguardas que surgiram nos
anos 1960 entre Buenos Aires e Rosário. Seus trabalhos desafiam e questionam os ideais de produtividade da economia neoliberal e valores morais e religiosos conservadores, em particular no que diz respeito a
comportamentos sociais e sexuais. Em muitos casos recorreu à mídia impressa para realizar colagens polêmicas, nas quais figuras religiosas são protagonistas de cenas eróticas. Já na série
Heliografias, plantas arquitetônicas são percorridas por indivíduos idênticos que, como peões anônimos, parecem repetir maquinalmente os mesmos comportamentos e ações. A dimensão crítica de seu trabalho em escultura dialoga
diretamente com a de seus desenhos e trabalhos em papel. A partir do início dos anos 1960, o artista produziu suas “armadilhas para generais”, uma série de esculturas de arame. Em seu exílio voluntário em São Paulo,
o artista retomou a produção dessas esculturas de aço abstratas. É o caso de
Escultura, estrutura quadriculada que remete à grade da abstração geométrica e ao mesmo tempo à ideia de aprisionamento.