O MAHKU — Movimento dos Artistas Huni Kuin é um coletivo criado e liderado por Ibã Sales, um txana, mestre dos cantos na tradição dos Huni Kuin, povo indígena brasileiro que vive no Acre. Muitos dos desenhos e pinturas dos Huni Kuin são produzidos a partir de rituais espirituais que envolvem canto, dança e o uso de nixi pae, conhecido como ayahuasca, uma substância psicoativa. As imagens desses trabalhos são frutos de mirações, experiências visuais geradas por esses rituais, e carregam a simbologia da comunicação, da abertura de caminhos e da cura. O desenho de Ibã Huni Kuin e Bane Huni Kuin, integrantes do MAHKU, é emoldurado por uma complexa padronagem em zigue‑ zague multicolorida. O uso da borda ornamentada é comum nos trabalhos do coletivo e se refere aos “caminhos da jiboia”, animal encantado responsável pela produção das imagens das “mirações”. Ao longo da borda, há oito figuras humanas entrelaçadas com a padronagem da jiboia. Os rostos estão delicadamente cobertos por pinturas corporais ritualísticas, também em zigue‑ zague. No centro do desenho surge uma paisagem desenhada com outra ordenação composicional, repleta de folhagens, aves, cobras, borboletas, árvores, um sapo, espalhando‑ se por múltiplas direções na superfície do desenho, sem, no entanto, determinar uma única orientação do papel. O MASP tem uma longa relação com o MAHKU, e, desde 2016, seus integrantes participaram de diversas oficinas, projetos e exposições, como o MASP Moda (2017-2019), para o qual este desenho originalmente foi elaborado.
— Tomás Toledo, curador chefe, MASP, 2020