Ibã Huni Kuin, artista, mestre espiritual e liderança indígena do Acre, é especialista e estudioso dos cantos do povo Huni Kuin, com um extenso trabalho de pesquisa, transcrição e difusão dessa fonte de conhecimento ancestral. Além de sua atuação como professor, Ibã também idealizou o Movimento dos Artistas Huni Kuin (MAHKU), coletivo que, com os seus desenhos, murais e pinturas, traduz em imagens os cantos e as mirações que eles invocam no contexto de diferentes rituais. Pela importância dessa iniciativa no sentido de registrar e manter viva a oralidade e a cultura imaterial do povo Huni Kuin, MAHKU foi comissionado a realizar obras inéditas para a exposição Histórias da dança. Os trabalhos retratam diferentes momentos da festa dos legumes, desde o preparo até a invocação dançada dos diferentes espíritos vegetais no momento de plantar ou de colher. A profusão de adornos e pinturas corporais dos participantes já indicam a solenidade e importância dessa cerimônia. A sua dimensão coletiva é evocada pela disposição circular dos indivíduos, e pela coordenação de seus gestos em reverência a essas diferentes entidades representadas pelos legumes geralmente posicionados no centro dos desenhos. Os grafismos geométricos que paramentam os corpos parecem espelhar o zigue-zague formado pelas figuras em posturas corporais que alternam braços e pernas dobrados, insuflando um ritmo dinâmico à essas imagens aparentemente estáticas, além de constituírem uma reminiscência visual da cadência e da pulsação dos cantos que as originaram.
— Olivia Ardui, curadora assistente, MASP, 2020