MASP

Wanda Pimentel

Sem título, 1968

  • Autor:
    Wanda Pimentel
  • Dados biográficos:
    Rio de Janeiro, Brasil, 1943 - 2019
  • Título:
    Sem título
  • Data da obra:
    1968
  • Técnica:
    Óleo sobre tela
  • Dimensões:
    146 x 114 cm
  • Aquisição:
    Doação Neyde Ugolini de Moraes, 2021
  • Designação:
    Pintura
  • Número de inventário:
    MASP.11162
  • Créditos da fotografia:
    Sergio Roberto Guerini

TEXTOS



Pode-se compreender a obra de Wanda Pimentel a partir do embate entre duas tradições em pintura: por um lado, o rigor das linhas e formas abstratas e geométricas; por outro, o desejo de representar o mundo contemporâneo e cotidiano em transformação, vivido, consumido e percebido. Nas pinturas da série Envolvimento, feitas a partir de 1967, há sempre um corpo feminino (ainda que dele vejamos apenas suas pernas e pés) enquadrado em ambientes domésticos — a sala, o quarto, a cozinha, o banheiro. As representações fragmentadas do corpo e da casa são feitas de maneira sintética, geometrizada, mediante linhas precisas (retas ou curvas), campos de cores chapados (sem variações, claro-escuros ou degradês), uma meticulosa técnica de aplicação de tinta (não há traços gestuais ou de pinceladas na tela) e uma paleta de cores reduzida (preto, branco, azul, verde, amarelo ou vermelho). O resultado são quadros multicoloridos e brilhantes, exatos e duros, com espaços fragmentados e perspectivas incongruentes, com uma forte tensão entre objetos e corpo — enquanto os primeiros parecem ganhar vida, o segundo parece se desumanizar. Por outro lado, e a despeito da precisa, fria e rigorosa composição, há sempre um elemento que indica um caos ou perigo iminente: o líquido que transborda de uma panela ou jorra de uma bica, o fio de fumaça que exala de um cigarro, alfinetes ou fósforos que caem na cena. Afinal, os Envolvimentos representam um inquietante mundo de incertezas, indicando que, na ordem, há também desordem, no íntimo e familiar, uma profunda estranheza.

— Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, 2023




Por Olavo Barros
Wanda Pimentel (1943-2019) iniciou seus estudos em arte em 1964 com o artista Ivan Serpa (1923-1973) no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Envolvimento é sua série de pinturas mais icônicas, feitas principalmente em 1968-69, embora a série chegue até 1984. Nela, Pimentel representa mulheres num contexto íntimo, doméstico, poético e muitas vezes à beira do caos, em cenas que têm algo de hipnótico. As mulheres de Pimentel aparecem cercadas de bens de consumo numa década marcada pela arte pop, pela nova figuração e por uma ideia de modernidade associada ao progresso e à acumulação. A artista usa cores chapadas e saturadas, em geral primárias e secundárias, contrastantes e complementares. Na pintura do MASP, são quatro as cores: o vermelho e o verde, que dominam a composição, e o branco e o preto, que preenchem espaços e contornam as formas. Nesta cena, tudo parece indicar algo, mas não sabemos ao certo o quê: um vestido — não se sabe se recém-despido ou se por vestir — tem sua manga enroscada numa cadeira; pernas femininas formam um “4” e parecem fundir-se ao tampo da mesa; quase escorregando pelas coxas, palitos espalhados e uma caixa de fósforos com um pequeno olho desenhado; e, mais acima, um cinzeiro com dois cigarros que se consomem e esfumaçam o ambiente. Todos esses elementos conferem dinamismo, movimento e vida à cena, a despeito das formas estáticas, quase arquitetônicas da pintura. Tais composições também evocam obras de artistas do mesmo período, como as colagens do inglês Richard Hamilton (1922-2011), e de períodos anteriores, como ‘O Grande Vidro’, do francês Marcel Duchamp (1887-1968).

— Olavo Barros, analista de Comunicação, MASP, 2021

Fonte: Instagram @masp 11.09.2021




Por Jessica Varrichio
Wanda Pimentel participou das icônicas aulas de Ivan Serpa no MAM-Rio que impulsionou a experimentação estética da arte brasileira a partir dos anos 50 com o movimento Neoconcreto. Desde então, a sua produção pop construtiva criou um universo anguloso, fragmentário, de cores primárias em que domina a temática doméstica e feminina. No quadro Sem título (1968), do acervo do MASP, observamos as típicas pernas imersas em uma composição de cores complementares e linhas bem marcadas que sugerem a arquitetura de uma sala de estar. Nessa obra especificamente há tanta intersecção entre sujeito e objeto que a mesa pode ser vista como uma saia ou o corpo toma características inanimadas de mesa. As cores chapadas, a bidimensionalidade e a despersonalização podem dar a sensação de restrição, porém o elemento central dessa pintura é a caixa de fósforo que ocupa o lugar do sexo; do corpo domesticado somos levados ao desejo aceso e pulsante. Há também o sentido do humor ao colocar um olho aberto na embalagem da caixa, um olho consciente de seus arredores, limites e desejos e que transforma em sátira o patriarcado, o consumo, o confinamento e a constrição. Contribuem também para a atmosfera sedutora e erótica o desnudamento implicado na roupa estirada no limite do quadro, a solidão quebrada com os dois cigarros acesos e as linhas ondulantes da fumaça que relaxam a tensão das linhas austeras do espaço.

— Jessica Varrichio, 2022



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