Após uma temporada em Nova York estudando desenho gráfico na Parsons School of Design, nos anos 1950, Wesley Duke Lee passou a trabalhar, a partir da década seguinte, sobre meios até então pouco explorados por
artistas brasileiros, como a instalação, a performance e o vídeo. Foi um dos fundadores do Grupo Rex e da Rex Gallery, que questionavam o lugar da arte na instituição e no mercado. As rápidas mudanças tecnológicas
observadas no final da década de 1970 — a fotocópia, a digitalização e a computação — estimularam a produção de Duke Lee, ainda que ele não tenha aberto mão das técnicas tradicionais, como a pintura, o desenho e a
colagem. É nesse contexto que surge
Sem título(1979), da série Papéis, com 400 trabalhos no total, projeto concebido a convite da diretoria da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), recém-criada na época, com sede no Rio de Janeiro. Duke Lee selecionou documentos nos arquivos da Bolsa
de Valores do Rio de Janeiro e do Museu do Banco do Brasil, como títulos do Império e a primeira cautela emitida pelo Banco do Brasil em 1853. A partir dessa pesquisa, o artista desenvolveu no Centro de Pesquisas da
Xerox, em Nova York, Estados Unidos, procedimentos de colagens a partir das variações de cor, foco e impressão que as máquinas ofereciam. Lá realizou cerca 2.100 reproduções diferentes, que ele chamou de “xerox
únicos”, remontando-as nessa série de 400 fotocópias coloridas. O trabalho tensiona as noções de valor ao longo da história do Brasil e sua representação em títulos públicos; as relações entre obras de arte e
promissórias de valor futuro; as fronteiras entre a cópia e o original.