Confeccionados a partir de uma grande variedade de técnicas de tecelagem empregadas com fios de lã e algodão, em tons naturais ou tingidos, os tecidos expostos foram, em sua maioria, recuperados de sepultamentos
encontrados em sítios arqueológicos nas regiões mais áridas da costa pacífica dos Andes. São atribuídas às culturas Siguas III (150‑700), Huari (700‑1000), Chimu (1200‑1450), Chancay (1200‑1450), Inca (1430‑1452),
que ocuparam os atuais territórios do Peru e da Bolívia. Há mais de um século, os artefatos arqueológicos andinos vêm despertando interesse não apenas de especialistas, como também de antiquaristas e colecionadores.
No entanto, sempre houve maior interesse pelas peças em metal (ouro, prata, cobre dourado), pelas cerâmicas e pelas peças líticas de acabamento mais fino. Os tecidos, no processo de formação das coleções, figuraram
em segundo plano, tornando‑se menos estudados ou conhecidos. Apesar disso, gazes, rendas, tecidos pintados, têxteis de cores vibrantes e até mesmo plumárias são, hoje, de enorme interesse científico, testemunhos de
uma história de gênero, conhecimento, especificidades e técnicas. Pesquisas científicas, em consonância com os relatos das comunidades indígenas que hoje habitam as serras andinas, revelam que a produção têxtil foi
sempre uma prática compartilhada pelas mulheres, fruto de tradições repletas de conhecimento e códigos transmitidos por quase três mil anos. Os dados arqueológicos sustentam, ainda, que as tecelãs andinas alcançaram
um status social elevado nas hierarquias de poder político e religioso, sobretudo nos últimos séculos que antecederam a chegada dos espanhóis. Magníficos tecidos, teares e outros instrumentos de trabalho dessas
mulheres são encontrados com frequência em templos e outros espaços de prestígio, muitas vezes integrando as elaboradas tumbas das elites governantes. Em conjunto, são evidências da diversidade cultural e tecnológica
vivenciada pelos povos indígenas do continente sul‑americano antes da invasão europeia.