Carolina Caycedo insere sua prática artística no campo social ao investigar a atuação de mulheres em movimentos político-ativistas e processos de resistência comunitária a impactos ambientais causados por projetos desenvolvimentistas, como a construção de barragens e a privatização da água. A artista opera de modo colaborativo e coletivo, reunindo muitas vozes em consonância, que se manifestam através de performances, vídeos, desenhos, fotografias e instalações. Filha de pais colombianos, Caycedo tem desenvolvido extensa pesquisa em contextos latino‑americanos por meio do envolvimento cotidiano com grupos sociais atravessados pelo trauma e o descaso com o direito democrático ao meio ambiente e à moradia. Em Minha linhagem feminina da luta (2018-2019), a artista traz um extenso agrupamentos de retratos em desenho de mulheres ativistas. Encontramos militantes de diferentes países do mundo e do Brasil; nos versos, as histórias de cada retratada. Dentre elas, a vereadora Marielle Franco (1979-2018), brutalmente assassinada no Rio de Janeiro em 14 de março de 2018, crime que esta semana completa três anos ainda sem resposta. O trabalho é parte da série Genealogia da luta e invoca a visibilidade e legitimação de nossa memória histórica e ambiental. Os retratos realizados pela artista instauram a força contida nos rostos de dezenas de mulheres assassinadas, violadas, ameaçadas ou criminalizadas, construindo, assim, uma genealogia feminista ancestral, de luta e consciência política.
— Beatriz Lemos, mestre em história, PUC-RJ, 2019