Castagneto seguiu a profissão de marinheiro do pai, com quem foi viver no Rio de Janeiro, em 1874. Estudou com Victor Meirelles (1832-1903) e Georg Grimm (1846-1887) na Academia Imperial de Belas Artes, onde
ingressou em 1876, burlando a regra da idade máxima para inscrição na escola. Referia‑se a si mesmo como um mero “pintor de botes”, pintando paisagens marinhas, muitas vezes a partir de um ateliê improvisado em um
barco. Suas pinturas eram feitas pelo empastamento da tinta óleo espalhada de forma ágil em largas pinceladas, em telas ou suportes rígidos, frequentemente tampas de caixas de charuto. Essa produção representou uma
atitude renovadora na pintura brasileira, introduzindo uma paisagem mais sensível, intuitiva e moderna. A obra
Uma salva em dia de grande gala na baía do Rio de Janeiro(1887) foi centro de uma das polêmicas que marcaram sua relação conturbada com a Academia. Trata-se de um dos projetos mais ambiciosos do artista, o que não o livrou, porém, de ter seu ingresso recusado na coleção da
Escola Nacional de Belas Artes, por desrespeitar os valores difundidos pelos acadêmicos.
O quadro Uma Salva em Dia de Grande Gala na Baía do Rio de Janeirorepresenta o imperador do Brasil, D. Pedro II, partindo em viagem à Europa, no dia 30 de junho de 1887, a bordo do paquete Gironde, acompanhado pelos encouraçados Aquidabane Riachuelo. No momento em que o navio do soberano aporta na ilha Rasa, os marinheiros sobem às enxárcias e saúdam o imperador, enquanto as baterias disparam vinte e um tiros. Trata-se da maior tela pintada pelo artista em toda
a sua carreira, que almejava com esta os favores e a aquisição da obra pela Academia, com o fito de subvencionar “viagem que tenciona fazer à Itália a fim de aperfeiçoar-se na arte de que recebeu as primeiras lições
na Academia do Rio de Janeiro”, conforme palavras do próprio artista, citadas por Maciel Levy. A obra é recusada pela instituição, não sem uma apreciação muito desfavorável, o que produz sobre o moral do artista um
efeito muito adverso. A tela é exposta na
Glace Élégante, desencadeando uma violenta controvérsia entre os críticos dos jornais Diário Ilustradoe Revista Ilustrada, analisados e transcritos por Maciel Levy (1982, pp. 32-33).