Marc Chagall foi um artista russo, judeu, nascido no século 19. Em 1910, mudou-se para Paris, então centro da cena artística europeia. Entre seus principais temas estão a religiosidade (justapondo símbolos judaicos e cristãos) e o mundo rural, como em Vendedor de gado. A primeira versão desta obra, de 1912, no Kunstmuseum de Basileia, na Suíça, é feita com tinta a óleo em grandes dimensões. Os ângulos das figuras são acentuados, como evidências do contato do artista com as vanguardas modernas na França, embora não se filiasse a nenhuma delas. Em 1914, retornou à Rússia, onde permaneceu, devido à Primeira Guerra. Voltou a Paris em 1922, mas em 1941 se exilou nos Estados Unidos, fugindo do regime nazista, regressando à Europa apenas em 1948. Entre 1922 e 1924, Chagall refez diversas pinturas do momento parisiense, como na segunda versão de ‘O vendedor de Gado’, no Musée d’art moderne de Paris, na mesma escala da primeira, porém com os contornos das figuras difusos, enfatizando a atmosfera onírica, característica de sua produção. A versão da obra no acervo do MASP é um estudo em pequenas dimensões feito em têmpera sobre papel. A alternância entre pessoas na vertical e animais na horizontal conduz o olhar da esquerda para a direita, explicitando o movimento de avanço da carroça. Ainda que baseada em um tio do artista, a pintura não representa uma cena específica, mas cria uma narrativa simbólica sobre os ciclos do trabalho rural, algo reiterado pelas rodas amarelas no centro da composição.
— Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP, 2023