Coadunam-se com a conquistada simplicidade afetiva da composição a paisagem “primitiva”, os ritmos pacatos do drapeado e o colorido rosa e escarlate do véu e das vestes da Virgem, de uma vivacidade quase ingênua.
Nessa imagem aconchegante de sacra maternidade em registro doméstico e suburbano intervém de modo mais contrastante o erudito detalhe da janela transformada em bífora pela coluna de pórro encimada por um capitel
suntuosamente coríntio. O acorde cromático resultante dessa combinação de tonalidades entre o rosa e o pórfíro é de uma sosticação que não se manifesta plenamente à primeira abordagem da obra
Virgem com o Menino Jesus.Em carta a P. M. Bardi de 3/1/1946, P. Toesca escreve: “É certíssima obra de Jacopo del Sellaio esta Virgem, em um momento de estreita vizinhança do pintor com Sandro Botticelli. De Botticelli deriva a simplicação do
fundo de interno, assim como a composição das duas guras, às quais todavia Jacopo del Sellaio apõe uma marca própria. Entre as características predominantemente botticellianas, são de fato particulares a Jacopo del
Sellaio a paisagem tão primitiva com las de delgados ciprestes, o tom do véu da Virgem e suas esbeltíssimas proporções. No caloroso afeto das duas guras, que recorda Botticelli, há um acento mais familiar próprio de
Jacopo del Sellaio”. Em favor desta atribuição a Sellaio poder-se-iam citar obras de grande similaridade com a nossa, como a
Virgem com o Menino Jesus, outrora em Florença, vendida no leilão Panciati di Ximenes d’Aragona, em 1902, e o Sangue do Redentor, vendida em Lucerna, no leilão Fischer de 17/6/1972 (lot 18). Um terceiro exemplo seria a Virgem com o Menino do
Museo del Bigallo, sobretudo pela semelhança entre os dois Meninos, embora recentemente a obra tem sido atribuída a um discípulo anônimo de Botticelli. De outro lado, uma aproximação tentada por Carl Strehlke, do
Philadelphia Museum of Art, a partir de uma proposta de Everett Fahy (carta a P. M. Bardi, de 3/2/1984), vincula nossa obra, Virgem com o Menino Jesus, ao autor do tondo com
A Virgem e o Menino e Dois Anjos, inv. n. 49, identicado na documentação daquele museu apenas como sendo da escola de Botticelli. Embora essa aproximação pontual não seja acolhida por Boskovits, este estudioso é também de opinião que a obra talvez
não seja de autoria de Sellaio, mas de um anônimo seguidor de Botticelli (comunicação oral, fev. 1996), opinião coincidente com a de Bellosi (comunicação oral, fev. 1996). A despeito disto e do fato que essa pequena
obra não é de elevadíssima qualidade, preferiu-se não rejeitar denitivamente a atribuição a Toesca, dado o claro vínculo entre nossa obra e a Virgem acima mencionada, vendida no leilão Panaciati di Ximenes d’Aragona,
de 1902. Evidentemente, é ainda de se interrogar se esta última obra é, ela própria, de autoria de Sellaio.