Do século 16, os Siwa, ou Swa, ou ainda T‑Swa, um povo de origens berberes, que vive no território que compreende hoje o Egito, habitou regiões de oásis e ficou conhecido por criar acampamentos com a mesma rapidez que os destruía. Trata‑se até hoje de um povo nômade que luta contra o Estado, no sentido de evitar fazer parte de qualquer instituição ou governo mais estabelecido. Até o século 20, os Siwa eram descritos como uma das etnias mais isoladas do mundo, desenvolvendo assim uma cultura bastante particular. Os Siwa criaram uma tecelagem muito complexa e que era (e continua a ser) exclusivamente trabalhada por mulheres. Se a princípio utilizavam tão somente a seda como material, depois passaram a manufaturar o algodão e a lã. Os tecidos Siwa também são reconhecidos por suas cores, padronagens e formas particulares. Explorando as linhas verticais e paralelas, eles as preenchem com cores bastante definidas e combinadas, como o preto, o verde‑escuro, o laranja, o vermelho e o amarelo. Nas bordas, franjas completam as peças, destacando de maneira isolada as cores que se encontram misturadas nas obras. Por conta da existência de tâmaras nas regiões desérticas e de oásis que os Siwa habitam, eles exploram as variações do negro presentes na parte exterior da fruta. Por se tratar de uma arte feita por mulheres e no âmbito doméstico, os tecidos Siwa foram muito utilizados em situações rituais e festivas, como na obra exposta, elaborada na virada do século 19 para o século 20 com o objetivo de enriquecer o enxoval de uma noiva.
— Lilia M. Schwarcz, curadora adjunta de histórias, MASP, 2019