Por Flávio dos Santos Gomes e Lilia Moritz Schwarcz
Fontes indicam suas origens angolanas; na primeira metade do século 19, ainda criança, ela teria viajado a Salvador com a mãe, que lhe ensinou saberes ancestrais e a acessar os “inquices”. No Quilombo do Urubu, formado por homens e mulheres que atacavam sítios nas proximidades de Salvador, Zeferina organizou fugas de escravizados e indígenas e imaginou invadir a cidade, matar sua população branca e garantir a liberdade dos cativos. A invasão não ocorreu, mas o grupo acabou derrotado. Presa, Zeferina foi levada amarrada, altiva, até a Praça da Sé, e depois foi assassinada. Registrando o evento, um ofício referiu-se pela primeira vez a um refúgio de negros rebelados como “candomblé”. O principal mocambo do quilombo ainda hoje é considerado um lugar sagrado. Ali, remanescentes de quilombo seguem enfrentando o genocídio da juventude negra, o racismo estrutural e perseguições contra religiões de raiz africana.
— Flávio dos Santos Gomes e Lilia Moritz Schwarcz; publicado originalmente em Enciclopédia negra (São Paulo: Companhia das Letras, 2021)