Por Monica Cardim
Zezé Mota, cantora e atriz, faz-se presente com leveza e elegância no acervo de fotografias do MASP. Zezé, retrato de Raul Eitelberg, tem inspiração pictórica convencional. A pose da artista é comportada, seu olhar evita a câmera. Em outra imagem, a Mãe de Santo D. Maria Bibiana do Espírito Santo afronta, majestosa, as
lentes de Pierre Verger. O que essas mulheres têm em comum? Além de serem de indiscutível importância para a cultura do país, são afrodescendentes, retratadas por homens brancos, e não são fotógrafas. A beleza de
ambas celebra a identidade da mulher negra e oculta a ausência de fotógrafas negras e indígenas nos acervos de arte dos museus brasileiros. Tal lacuna, quando preenchida por curadorias decoloniais, beneficiará o
próprio sistema de arte com pluralidade estética e abordagens orientadas por concepções não unicamente ocidentais, masculinas e brancas. Obras como
Humanae, da artista plástica e fotógrafa brasileira Angelica Dass, ao explorar a codificação digital das cores, discute o conceito hierarquizado de humanidade, cuja legitimação se deu com a contribuição de retratos
etnográficos de viés colonialista, produzidos por europeus, como do alemão Alberto Henschel no século 19. Poderosas contranarrativas acerca da construção da identidade nacional e da presença humana no mundo vêm sendo
produzidas pela perspectiva de fotógrafas e artistas indígenas, negras e afroindígenas. Basta olhar para ver.