PÚBLICO GERAL
5X R$ 57,60
AMIGO MASP
5X R$ 48,96
*VALORES PARCELADOS NO CARTÃO DE CRÉDITO
O curso pretende apresentar uma visão abrangente da história do carnaval brasileiro, destacando o papel desempenhado pelas escolas de samba, no contexto de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, enquanto associações de matrizes negro-populares que muito contribuíram para o debate público que emergiu no amplo contexto do pós-abolição, aparecendo, conforme o lecionado por pesquisadores como o antropólogo Vinícius Natal, como representantes de um pensamento moderno não-abarcado pela visão monumental de 1922. Estabelecido este recorte inicial, que propõe um reposicionamento das escolas de samba no mapa dos estudos artístico-culturais brasileiros dos séculos 20 e 21, serão desdobrados criticamente conceitos como “enredo”, “fantasias” e “alegorias”, fundamentais para a compreensão dos desfiles sambistas em si e para a tessitura de conexões com outras linguagens e expressões artísticas, como o cinema, o teatro, a ópera, a moda, as artes plásticas. No decorrer das aulas, serão apresentados exemplos e realizados estudos de caso, com o fim didático de expandir as reflexões em uma perspectiva teórico-prática, utilizando-se, para tal, de farto material imagético. Objetiva-se, ao final, que os participantes do curso visualizem a complexidade artística e o potencial discursivo (inclusive didático-pedagógico) do samba e das escolas de samba, conhecendo, ainda que parcialmente, o vocabulário específico das agremiações, suas tensões e contradições.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e cada aula ficará disponível aos alunos durante cinco dias após a realização da mesma. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
Aula 1 – 9.10.2023
Carnaval, carnavais: perspectivas em disputa
O pensar dos festejos carnavalescos nas encruzilhadas contemporâneas
A ampla ideia de “carnaval”, em perspectiva histórico-crítica: da linearidade ao tempo espiralar (memória, história, ficção). O carnaval brasileiro: projetos, importações, hibridações, apagamentos, continuidades e rupturas. O carnaval nas artes plásticas, na música e na literatura brasileiras: visão panorâmica, com ênfase nas décadas de 1920 e 1930. Encruzilhadas contemporâneas: poético e político, ética e estética, tensões e contradições. Questões étnico-raciais, de gênero, classe, sexualidade, religiosidade: apropriações, referências, interpretações e agendas. O carnaval no asfalto acadêmico: olhares cruzados.
Aula 2 – 10.10.2023
Samba, escolas de samba e modernidade: prosa longa & memória curta
Modernismos em debate; o(s) samba(s) e as agremiações sambistas
Revisão crítica do canonizado “Modernismo brasileiro”, centrado em 22: “reantropofagias” em cena. Os papéis sociais do samba: cidadania em debate, no amplo contexto do pós-abolição. O surgimento e a consolidação das escolas de samba: das narrativas míticas aos múltiplos olhares do hoje. Breve histórico dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, com ênfase nas ideias de “gramática cênica”, territorialidade, espetáculo, “invasão da classe média”, “revolução salgueirense”, “carnavalesco”, “ópera popular”. O samba de enredo e o seu universo temático. Desconstruções e caminhos abertos: as urgências do presente e a “descoberta” do político.
Aula 3 – 16.10.2023
Enredos e desenredos: tramas narrativas
Histórias narradas e transbordadas nas avenidas
As dimensões narrativas de um desfile de escola de samba: aspectos históricos, com breves estudos de casos. Libreto, roteiro, sinopse: a sede comparatista e a incompreensão das especificidades. As histórias que a História não contava: o recorte da década de 1960. O delírio e a vanguarda nas narrativas de Joãosinho Trinta e Fernando Pinto: diálogos com a história da arte e revisão crítica da história brasileira. Rosa Magalhães, carnavalesca a cartógrafa: as dimensões literárias da produção da “Professora”. Os enredos inseridos no hoje: autoria, política, patrocínio, lutas. O texto literário bordado: estudos de casos. Arte carnavalesca e Arte contemporânea: jogo de espelhos.
Aula 4 – 17.10.2023
“De perfume e fantasia”
Do texto que é tecido – samba e indumentária
A ideia de “fantasia”, para além dos tecnicismos de um “quesito”. Vestes, roupas, máscaras, disfarces, figurinos carnavalescos: debates terminológicos. Os “padrões clássicos”: leitura a contrapelo, sob a ótica dos “recondicionamentos” da “geração Pamplona”. Concretismo e neoconcretismo: impactos e aspectos disruptivos. Escolas de samba e teatralização: “figurinos” ou “fantasias”? O samba e a moda: limites e imbricações. Estudo de caso: oficinas têxteis no barracão do GRES Acadêmicos do Grande Rio, em 2020; o caso Rafael BQueer: fantasias carnavalescas, corpas, moda, design, performance.
Aula 5 – 23.10.2023
Alegorias, cenários flutuantes
O barracão: mix de ateliê, fábrica, museu
Carros alegóricos, uma longa duração. Noções de “arquitetura cênica” e breve histórico de cenários sobre rodas. Os carros das Grandes Sociedades e as importações da cidade de Nice. Escolas de samba, alegorias e “barracões”: práticas artísticas em moto-contínuo. O processo de verticalização, a partir da década de 1970, e o triunfo das “Superescolas de Samba SA”. Os carros alegóricos em relação aos Sambódromos: escalas, percursos, montagens. Técnicas que “morrem”, instrumentos que se reinventam: observação de casos emblemáticos. Visão panorâmica das etapas de produção e diálogos com outras linguagens artísticas e outros circuitos espetaculares, como o Festival de Parintins.
Aula 6 – 24.10.2023
“Quem é você, carnavalesco?”
Reflexões acerca do papel dos “designers de carnaval” e a memória da festa
Quem, afinal, concebe e “assina” um desfile? Autorias em debate, visões conflitantes. Obra de arte total? Os “superpoderes” artísticos (e narrativos) de um modelo de sucesso: o advento do “profissional carnavalesco” e os principais nomes de uma história cristalizada. Os “esquecidos”: reposicionamentos e releituras hodiernas. Coletivos e experiências em contrafluxo: provocações e estudos de casos. Carnavalescos e curadores, carnavalescos e diretores de arte, carnavalescos e agentes culturais. Escolas de samba, museus e galerias: faíscas? Estudo de caso: Beatriz Milhazes e o “Gamboa III”. Os múltiplos planos de um “barracão” e os desafios para o amanhã.
Leonardo Augusto Bora é professor adjunto de Fundamentos da Cultura Literária Brasileira do Departamento de Ciência da Literatura da Faculdade de Letras da UFRJ e professor do Programa de Pós-Graduação em História da Arte da UERJ. É doutor (com período de mobilidade acadêmica na Université Nice Sophia-Antipolis, em Nice – França) e mestre em Teoria Literária pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Literatura da UFRJ. Bacharel em Direito pela UFPR e Licenciado em Letras Português-Inglês pela PUCPR. Foi professor substituto do curso de Produção Cultural da UFF e do curso de Artes Cênicas (Cenografia e Indumentária) da EBA-UFRJ. Como carnavalesco, já desenvolveu trabalhos para as escolas de samba Mocidade Unida do Santa Marta, Acadêmicos do Sossego, Acadêmicos do Cubango e Acadêmicos do Grande Rio (campeã do carnaval carioca de 2022, com enredo sobre Exu).