Maria Auxiliadora retratou múltiplas imagens de seu cotidiano e da paisagem ao seu redor, pintando cenas de festas de rua, celebrações religiosas, cortejos, e também da vida privada, como o dia a dia de familiares e amigos. Um dos temas recorrentes são paisagens do campo como esta, com trabalhadores rurais realizando diversas tarefas em conjunto, e a fazenda chamada Marisol aparece em alguns quadros da artista. Aqui as figuras humanas são representadas de maneira a ressaltar suas identidades e singularidades, seja por meio dos diferentes rostos e expressões faciais, seja pelas roupas que vestem — que, apesar de simples, são pintadas com grande riqueza de detalhes e estampas, aspecto ao qual Auxiliadora dedica bastante atenção, explorando diferentes texturas e cores dos tecidos. Vistas de longe, as personagens formam um conjunto que ocupa toda a superfície do quadro, dando ritmo à composição, que é estruturada a partir de uma cerca de madeira que atravessa quase toda a cena. Essa cerca conduz o olhar a percorrer um caminho que indica as sucessivas etapas da produção de alimento na fazenda, desde a criação dos animais e o cultivo das plantas até o cozimento no fogão à lenha da cozinha. Esse componente narrativo da cena é uma característica central nas pinturas de Auxiliadora, que frequentemente conta histórias a partir de suas pinturas. Chama atenção ainda os pontos de relevo produzidos a partir do uso de uma mistura de tinta a óleo, massa de poliéster e, às vezes, o próprio cabelo da artista. Essa massa de tinta produz volume e projeta elementos da tela para fora, conferindo-lhes contornos escultóricos, como vemos nos cabelos das personagens, nos corpos dos animais e nas diferentes camadas de alvenaria da cozinha.
— Danilo Cavalcante, estágiario, MASP, 2023