MASP

Programação anual | 2024

Até 31.12.2024

O MASP tem o prazer de anunciar a programação de 2024, dedicada às Histórias da diversidade LGBTQIA+ ao redor do mundo. Ao longo do ano, será apresentada uma série de atividades — exposições, cursos, palestras, oficinas, seminários e publicações — que propõem abordar e debater temas como o ativismo e a representatividade queer e os movimentos sociais LGBTQIA+ em conexão com a cultura visual e as práticas artísticas.

Diversidade é um termo que pode ser associado às identidades queer, as quais englobam gêneros e sexualidades não normativas. Em português, a noção de histórias – diferente do conceito de História tradicional – sugere narrativas mais abertas, multívocas, inacabadas e não totalizantes, abrangendo não apenas relatos históricos, como também histórias pessoais, contos e narrativas ficcionais.

O programa do ano dá sequência às exposições dedicadas às Histórias no MASP, que acontecem desde 2016 e incluem Histórias da infância (2016), Histórias da sexualidade (2017), Histórias afro-atlânticas (2018), Histórias das mulheres, histórias feministas (2019), Histórias da dança (2020), Histórias brasileiras (2021-22) e Histórias indígenas (2023). A partir desse conceito, a série de 2024 propõe novas narrativas visuais, mais inclusivas, diversas e plurais sobre as Histórias da diversidade LGBTQIA+, trazendo uma multiplicidade de vozes no conjunto de artistas apresentados e de obras selecionadas para as exposições.


Acervo em transformação
Durante todo o ano de 2023
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Regina Teixeira de Barros, curadora de acervo, MASP, com assistência de Matheus de Andrade, assistente curatorial, MASP

A mostra de longa duração do MASP reúne obras pertencentes ao acervo do museu expostas nos icônicos cavaletes de cristal concebidos pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992). 
Dentre as obras que integram o acervo, estão O escolar (O filho do carteiro – Gamin au Képi) (1888), de Vincent Van Gogh; Composição (Figura só) (1930), de Tarsila do Amaral, e Okê Oxóssi (1970), de Abdias Nascimento. Com o intuito de propor novas leituras e abordagens, são realizadas constantes atualizações dos trabalhos ao longo do ano, apresentando as diversas facetas da coleção. 

Gran Fury: arte não é o bastante
23.2—9.6.2024
Curadoria: André Mesquita, curador, MASP, com assistência de David Ribeiro, assistente curatorial, MASP

No ano dedicado às Histórias da diversidade LGBTQIA+ no MASP, o museu apresenta pela primeira vez uma exposição do coletivo Gran Fury na América Latina, grupo considerado referência para as práticas de ativismo artístico das décadas de 1980 e 1990. Formado em 1988 em Nova York, o Gran Fury emergiu de uma organização chamada ACT UP (Aids Coalition to Unleash Power) [Coalizão da Aids para Libertar o Poder], composta por indivíduos e grupos de afinidade dedicados a tornar criticamente público o silêncio e a posição negligente do governo dos Estados Unidos sobre o HIV/aids. Em sua atuação, pressionou o trabalho de órgãos governamentais para o aumento da criação de políticas públicas de tratamento e conscientização.

Gran Fury produziu campanhas gráficas e intervenções públicas em torno das questões relacionadas à crise da aids, servindo visualmente ao ACT UP em protestos e ações de desobediência civil diante do descaso do governo de Ronald Reagan ao tratamento da epidemia. O coletivo encerrou suas atividades em 1995, e seu arquivo encontra-se na New York Public Library.

Em boa parte de sua trajetória, o Gran Fury contou em sua formação com Avram Finkelstein, Donald Moffett, John Lindell, Loring McAlpin, Mark Simpson, Marlene McCarty, Michael Nesline, Richard Elovich, Robert Vazquez-Pacheco e Tom Kalin. A exposição no MASP, cujo título foi emprestado de uma conhecida frase impressa em um dos cartazes do coletivo – With 42,000 Dead, Art Is Not Enough [Com 42 mil mortos, arte não é o bastante] –, procura discutir os limites e os alcances das campanhas gráficas do Gran Fury. Busca, também, refletir sobre a ideia da arte como um lugar estratégico da contribuição do ativismo do HIV/aids, impulsionado por pessoas queer para a ação direta no enfrentamento social e político de uma epidemia, produzindo novos modos de ver, sentir, viver, intervir e transformar a realidade. Um catálogo será publicado por ocasião da exposição.

Sala de vídeo: Masi Mamaní / Bartolina Xixa
23.2—14.4.2024
Curadoria: Matheus de Andrade, assistente curatorial, MASP

Masi Mamaní (Jujuy, Argentina, 1995) atua como bailarino, performer e artesão, fazendo parte da comunidade LGBTQIA+ na região da Quebrada de Humahuaca, localizada na região noroeste da Argentina, que faz fronteira com Bolívia e Chile. Mamaní trabalha na intersecção entre pesquisa antropológica, experiências pessoais e expressão artística, oferecendo uma reflexão sobre as realidades marginais na Argentina e nos Andes. Sua arte é um manifesto de resistência, denunciando as adversidades enfrentadas por seu povo e reafirmando suas identidades culturais ancestrais.

Desde sua infância, em Salta, Masi demonstrou interesse pelas danças folclóricas andinas, sendo inclusive professor de danças folclóricas. Em 2016, deu vida à personagem Bartolina Xixa, uma "drag diversa", conforme sua própria definição. Sua inspiração veio de Bartolina Sisa Vargas (Corregimiento de La Paz, Bolívia, circa 1750 – La Paz, Bolívia, 1782), uma heroína indígena histórica no contexto de colonização andina, que liderou inúmeras revoltas pela liberdade do seu povo e foi brutalmente assassinada pelos colonizadores espanhóis no século 18.

Bartolina Xixa desafia os estereótipos e padrões convencionais do universo drag ao incorporar elementos tradicionais da cultura indígena andina. Com um forte simbolismo, assume a identidade de "chola", termo de origem quéchua e aymara inicialmente utilizado para designar mulheres mestiças e atualmente associado às mulheres andinas que adotam vestimentas e adereços tradicionais. Ao fazê-lo, reivindica suas raízes ancestrais, ao mesmo tempo em que denuncia a persistência da colonialidade na atualidade, tal como reflete o título de uma de suas obras: Ramita Seca, La colonialidad permanente [Ramo seco, a colonialidade permanente], gravado em 2019 em um lixão de Hornillos.

Arte na moda: MASP Renner
22.3—9.6.2024 
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP e Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP

Ao longo de três temporadas, desenvolvidas entre 2018 e 2022 com diferentes equipes curatoriais, o projeto MASP Renner convidou e acompanhou o processo criativo de 26 duplas de artistas e estilistas que conjuntamente produziram 78 roupas criadas especialmente para o acervo do museu. A exposição Arte na moda: MASP Renner reúne pela primeira vez todas as peças.

O MASP Renner radicaliza a ideia de uma criação conjunta entre artistas e estilistas, sendo um dos poucos exemplos no mundo de museus cuja coleção de moda é composta por roupas que foram produzidas diretamente para o acervo, sem circulação prévia. Essa especialidade traz a reflexão sobre a roupa como obra de arte, e não como documento histórico ou item autoral que passa a integrar acervos após seus usos. 

Nesse sentido, cada dupla tensiona as relações e limites entre arte e moda a partir de três categorias e de suas possíveis interseções: a transposição das imagens produzidas pelos artistas para as modelagens utilizadas pelos estilistas; a criação de roupas que aproximam os procedimentos e materiais em comum na produção de ambos, lidando com a roupa em seus aspectos escultóricos; e, por fim, a experimentação dos limites conceituais e simbólicos de uma roupa, aproximando-a de debates sobre design especulativo e outras áreas de produção, como a arquitetura.

O projeto amplia a coleção de moda do MASP, tomando como ponto de partida a coleção Rhodia — maior componente do acervo de vestuário do museu. Nos anos 1960, a marca francesa introduziu os tecidos sintéticos no outwear brasileiro, comissionando estampas para artistas nacionais para que esses tecidos fossem confeccionados pelos estilistas da época, até então chamados de “costureiros”. As peças circulavam em feiras e desfiles-espetáculos e foram apresentadas em uma exposição do MASP em 1971 e, depois, incorporadas ao acervo do museu em 1972, sendo consideradas exemplares da formação de uma moda nacional. Um catálogo será publicado por ocasião da exposição.

Francis Bacon: a beleza da carne
22.3—28.7.2024
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Laura Cosendey, curadora assistente, MASP, com assistência de Isabela Loures, assistente curatorial, MASP

Francis Bacon (Dublin, Irlanda, 1909—1992, Madrid, Espanha) é considerado um dos mais importantes pintores da arte do século 20, com mais de seis décadas de produção. Filho de pais ingleses, teve uma infância difícil, em um ambiente familiar violento. Aos dezesseis anos, foi expulso de casa por seu pai. Após passar um período em Berlim e em Paris, fixou-se em Londres a partir dos anos 1930, onde iniciou sua carreira como artista. Bacon construiu uma obra contundente e marcante, conhecida sobretudo por sua maneira particular de retratar as figuras humanas, especialmente retratos e nus masculinos. Em suas obras, pintou frequentemente seus companheiros, amantes e amigos da boemia londrina.

A biografia e a obra de Bacon foram permeadas pela presença de seus amantes, especialmente Peter Lacy e George Dyer, com os quais estabeleceu relações intensas e turbulentas. A exposição apresentará diversos retratos desses homens, além de outras figuras marcantes em sua vida, como seu companheiro próximo John Edwards. O título da exposição – A beleza da carne – é inspirado numa fala do artista em uma das entrevistas conduzidas pelo crítico de arte David Sylvester: “[...] enquanto pintor, devemos lembrar que há essa grande beleza na cor da carne. [...] Nós, obviamente, somos carne, somos carcaças em potencial. Quando vou a um açougue, sempre penso que é surpreendente que eu não esteja lá no lugar do animal”. A fisicalidade do corpo – pele, carne, músculos – é traduzida pelo artista em texturas espessas e oleosas, conferindo às figuras formas quase abstratas. As pinturas de Bacon reúnem em si uma grande variedade de fontes, revisitando temas canônicos e combinando referências da história da arte com suas experiências pessoais e suas percepções sobre o corpo masculino.

Francis Bacon: a beleza da carne pretende destacar como o artista, com sua pintura inovadora e impactante, abriu caminhos para a presença queer na cultura visual. Cobrindo mais de quatro décadas de trabalhos do artista, a exposição apresenta obras de Bacon desde os anos 1940 aos 1980. Integram a mostra diversas obras do artista, provenientes de mais de 20 museus internacionais e coleções particulares. Um catálogo será publicado por ocasião da exposição.

Mário de Andrade: duas vidas
22.3—9.6.2024
Curadoria: Regina Teixeira de Barros, curadora coordenadora, MASP, com assistência de Daniela Rodrigues, assistente curatorial, MASP

A produção intelectual de Mário de Andrade (São Paulo, 1893—1945) sobre música, artes visuais e arquitetura, seus romances, contos e poemas, além dos levantamentos etnográficos realizados pelo artista, foram e continuam sendo centrais para a compreensão do modernismo no Brasil e para a construção de uma ideia de identidade brasileira. O autor de Pauliceia desvairada (1922) e Macunaíma (1928) participou da Semana de Arte Moderna (1922), foi colecionador de arte e de folclore brasileiro, realizou registros fotográficos e fonográficos de suas viagens pelo país e criou o SPHAN – Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o primeiro órgão no gênero. 

As atividades e os escritos de Andrade, bem como a correspondência que manteve com seus contemporâneos do meio cultural, vêm sendo objeto de estudo desde seu falecimento. Contudo, somente em 2015, setenta anos após sua morte, quando todos os seus escritos caíram em domínio público, a produção literária de Mário de Andrade começou a ser analisada à luz de suas preferências homoafetivas, um assunto considerado tabu até então. 

Mário de Andrade: duas vidas será a primeira exposição a tratar do olhar queer do colecionador a partir de uma seleção das obras de arte e imagens sacras por e le reunidas, hoje sob a guarda do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. A exposição será composta majoritariamente por desenhos e gravuras, sendo alguns apresentados pela primeira vez ao público, bem como um conjunto de fotografias captadas por Mário em suas viagens ao norte e nordeste do Brasil entre 1927 e 1935. Complementam a mostra retratos do crítico realizados por pintores de quem era próximo, além de documentos e fotografias dele próprio. Um catálogo será publicado por ocasião da exposição.

Sala de vídeo: Tourmaline
26.4—23.6.2024
Curadoria: Teo Teotonio, assistente curatorial, MASP

Tourmaline (Roxbury, Massachusetts, 1983) é uma artista, cineasta, escritora e ativista cuja prática destaca manifestações culturais, opressões e modos de sobrevivência das comunidades negra, queer e trans, trazendo à tona saberes e vivências dissidentes com o objetivo de impactar a instituição artística e, consequentemente, a cultura e a sociedade como um todo. Seus filmes e fotografias reescrevem narrativas e histórias dominantes através de citações e referências a importantes figuras da resistência queer, como a ativista Marsha P. Johnson, em novos contextos imaginados pela artista, que também aparece em algumas produções. Valendo-se da intersecção entre ficção e realidade, Tourmaline procura reformular crenças e iniciar uma mudança de paradigma com o intuito de imaginar um futuro em que opressões de raça, gênero e sexualidade percam suas forças. 

Tourmaline vive e trabalha em Nova York, NY. Participou da 59ª Bienal de Veneza e em exposições coletivas na Tate Modern, em Londres; J. Paul Getty Museum, Los Angeles; Metropolitan Museum of Art, Nova York; Los Angeles County Museum of Art, Los Angeles; Museum of Modern Art, Nova York; MoMA PS1, Long Island City, entre outras.

Catherine Opie: o gênero do retrato
5.7—27.10.2024
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Guilherme Giufrida, curador assistente, MASP

Uma das principais artistas da fotografia internacional contemporânea, Catherine Opie (Sandusky, Ohio, EUA, 1961) é conhecida por seus retratos da cena queer californiana desde o final dos anos 1980, mas sua produção se estende para outros gêneros artísticos, como paisagens e cenas do cotidiano de diferentes grupos sociais e comunidades, especialmente de seu país. Opie vive há décadas em Los Angeles, onde foi também professora no departamento de Artes da Universidade da Califórnia (UCLA).

Um dos elementos fundamentais do trabalho da artista é o registro de diferentes performances de gênero através de uma revisão crítica do gênero retrato. Daí o título da exposição, que se apoia na duplicidade do sentido da palavra “gênero” na língua portuguesa. Opie dialoga com a tradição do retrato – esse modo de representar a figura humana que remonta ao século 15, no Ocidente –, produzindo um arquivo de diversas expressões de gêneros e sexualidades de sujeitos e coletivos de seu tempo. Por outro lado, sua obra ressalta que todo retrato tem gênero, isto é, através dessas fotografias, categorias sexuais convencionais e binárias são explicitadas, mas podem também ser desconstruídas.

A mostra no MASP é a primeira individual de Opie no Brasil. Serão apresentadas cerca de 60 fotografias de muitas de suas séries mais icônicas, revelando parte significativa de mais de quatro décadas de produção. A exposição incluirá também um conjunto de cerca de 15 retratos emblemáticos da coleção do MASP – fortemente marcada pela arte figurativa, pela representação da figura humana e pelo próprio retrato – com o objetivo de acentuar os diálogos, tensões e reformulações aos quais o trabalho de Catherine Opie se propõe. Um catálogo será publicado por ocasião da exposição.

Lia D Castro: em todo e nenhum lugar
5.7—17.11.2024
Curadoria: Isabella Rjeille, curadora, MASP, e Glaucea Britto, curadora assistente, MASP

Lia D Castro (Martinópolis, São Paulo, 1978) é artista, intelectual e educadora. Por meio de pinturas, gravuras, objetos, fotografias e desenhos, D Castro aborda as maneiras como o afeto e o cuidado podem ser importantes ferramentas de transformação social. A artista se utiliza do trabalho sexual para investigar como as relações de raça, classe e gênero se dão em situações de vulnerabilidade e intimidade. A artista desenvolve seus trabalhos a partir de encontros com homens cisgêneros, em sua maioria brancos, heterossexuais, de classe média e alta, para subverter relações de poder e violência que possam surgir daí, transformando-as em responsabilidade e afeto. Temas como masculinidade e branquitude são abordados por D Castro nessas trocas, envolvendo diretamente seus colaboradores. A atuação da artista também se estende às práticas de educação sobre antirracismo e antitransfobia, com referências a obras de importantes autoras e autores negros, como Frantz Fanon, Toni Morrison, Conceição Evaristo, entre outros.

Lia D Castro: em todo e nenhum lugar será a primeira mostra individual da artista em um museu e reunirá trabalhos que abrangem toda a sua produção. O título constata a condição histórica de pessoas minorizadas, as quais ocupam predominantemente as bases que sustentam a sociedade e, no entanto, são ausentadas das posições de decisão. Essa constatação também é acompanhada de um posicionamento crítico sobre os possíveis modos de ocupação de tais lugares dentro de uma estrutura construída e mantida com base na exclusão: através de uma presença não fixa, não determinada e não conformada, capaz de transformar radicalmente essa mesma estrutura. Um catálogo será publicado por ocasião da exposição.

Sala de vídeo: Ventura Profana
5.7—18.8.2024
Curadoria: David Ribeiro, assistente curatorial, MASP

Ventura Profana (Salvador, Bahia, 1993) é pastora missionária, cantora evangelista, escritora, compositora e artista visual, cuja prática está enraizada na pesquisa sobre as implicações e metodologias do deuteronomismo, uma tradição interpretativa das escrituras sagradas do cristianismo relacionada à difusão das igrejas neopentecostais. Seus trabalhos já foram expostos no MASP, na mostra Histórias brasileiras (2022), na 35ª Bienal de São Paulo (2023) e em diversas outras instituições no Brasil e no exterior, como o Werkstatt Der Kulturen Berlin (Alemanha), o Museu Nacional da República (Brasília, DF), o Dragão do Mar – Museu de Arte Contemporânea do Ceará (Fortaleza, CE), o Centre d’Art Contemporain Genève (Suíça), e o MAR – Museu de Arte do Rio. 

A artista também publicou o livro A cor de Catu e participa da Antologia Jovem Afro, fez shows em La Mutinerie (Paris), em eventos como a Virada Cultural de São Paulo e a 22ª Parada LGBT de Belo Horizonte, e em espaços como o Circo Voador (RJ). Seu disco de estreia Traquejos Pentecostais para Matar o Senhor foi lançado em 2020 em parceria com Podeserdesligado. Também realizada em parceria com Podeserdesligado, a performance Cântico dos Cânticos foi premiada na categoria Melhor Performance no Prêmio de Artes Cênicas Negras Leda Maria Martins, em 2019.  Ventura Profana foi indicada ao Prêmio PIPA em 2020 e em 2021, tendo sido selecionada neste último.

Leonilson: agora e as oportunidades
23.8—17.11.2024
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, com assistência de Teo Teotonio, assistente curatorial, MASP

Leonilson (José Leonilson Bezerra Dias, Fortaleza, 1957—1993, São Paulo) é um artista central da arte contemporânea brasileira. Embora seja identificado com a chamada Geração 80 no Brasil, seus trabalhos mais icônicos foram produzidos no final da década e nos primeiros anos de 1990. Muitas de suas obras são reflexões poéticas e pessoais sobre sua vida e o mundo, apresentando aspectos autobiográficos.

Os trabalhos assumem feições de uma espécie de diário escrito, desenhado e pintado, em torno de temas como o amor e os amantes, os sentimentos e a sexualidade, o corpo e a doença — o artista descobriu ser HIV + em 1991, e faleceu dois anos depois.A mostra de Leonilson tem como título o nome de uma obra que pertence ao acervo do Museu. Agora e as oportunidades (1991) é uma das obras mais emblemáticas do artista, repleta de conteúdos e significados políticos.

Na pintura, ao lado da figura desenhada em preto que parece fundir diversos corpos, estão as frases “Sou um homem só, sou dois”, “agora e as oportunidades” e, abaixo dela, “tenho quase 2 mts e estou só há várias noites”. O personagem evoca um ser mitológico, solitário e dividido, com quatro pernas e cabeças, caminhando para diversos lados.A exposição concentra-se nos últimos cinco anos de vida do artista, seu período mais rico e complexo, intitulado Leonilson tardio, e será organizada cronologicamente: cinco salas no primeiro andar do museu, cada uma dedicada a um ano de produção do artista. A mostra reunirá cerca de 150 trabalhos, entre eles desenhos, esculturas, bordados e objetos, bem como documentos e cadernos do artista. Um catálogo será publicado por ocasião da exposição.

Sala de vídeo: Kang Seung Lee
23.8—27.10.2024
Curadoria: Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP

Kang Seung Lee (Seul, Coreia do Sul, 1978) é um artista multidisciplinar que atualmente vive em Los Angeles. O trabalho do artista destaca histórias pessoais e experiências individuais marginalizadas. Ao explorar, redescobrir e apropriar-se de imagens e textos de arquivos públicos e privados, como coleções de arte, artefatos, publicações, bibliotecas e diversos arquivos queer, seu trabalho possibilita que contra-narrativas e vozes pessoais, anteriormente negligenciadas, se manifestem. Através de desenhos a grafite e lápis coloridos, bordados, tapeçaria e cerâmica, Lee constrói uma reimaginação de diversos eventos históricos, como a epidemia de AIDS. Seu trabalho concentra-se especialmente no legado das histórias queer, destacando a interseção com a história da arte, homenageando figuras como Robert Mapplethorpe, Tseng Kwong Chi, Peter Hujar, Martin Wong, Derek Jarman, e Joon-soo Oh.

Lazarus, 2023, presta homenagem a Goh Choo San (1948-87), um coreógrafo pioneiro nascido em Cingapura, e a José Leonilson (1957-93), um artista conceitual brasileiro conhecido por suas obras poéticas sobre amor e luto sob uma perspectiva queer. Goh atuou e coreografou para companhias de balé proeminentes na Europa, Ásia e Estados Unidos. Leonilson viveu a maior parte de sua vida em São Paulo, criando obras predominantemente autobiográficas sobre sua vida e experiências como homem gay. Ambos os artistas faleceram devido a doenças relacionadas à AIDS. Ao se inspirar no balé original de Goh, Unknown Territory, (1986), a coreógrafa Daeun Jung cria um dueto de movimentos mínimos e intencionais, evocando a intimidade queer, o legado e os estados de sofrimento e pertencimento. Em Lazarus, dois dançarinos interagem com uma fantasia reproduzida a partir da última obra de Leonilson, Lazaro (1993), uma instalação escultural feita com duas camisas masculinas costuradas juntas. Ao replicar a obra de Leonilson em Sambe, um tecido de cânhamo tradicionalmente usado na Coreia para mortalhas funerárias, Lazarus presta homenagem às vidas e memórias perdidas durante a epidemia de AIDS, ao mesmo tempo em que comenta sobre o apagamento histórico de seu legado.

Histórias da diversidade LGBTQIA+
13.12.2024—13.4.2025
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Julia Bryan-Wilson, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea, MASP, com assistência de Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP, e Teo Teotonio, assistente curatorial, MASP.

A exposição coletiva de grande escala Histórias da diversidade LGBTQIA+ encerra a programação do ano de 2024 do MASP totalmente dedicada ao tema. Com cerca de 200 obras de acervos públicos e privados do Brasil e do exterior, a mostra será organizada em diversos núcleos. Histórias da diversidade LGBTQIA+ ocupará os dois principais espaços da galeria do MASP dedicados a exposições temporárias: no segundo subsolo e primeiro andar do museu, totalizando aproximadamente 1.000 m². 
A noção plural de histórias, em português, é particularmente relevante (em oposição à noção de History em inglês, por exemplo), pois pode abranger ficção e não ficção, relatos pessoais ou políticos, narrativas privadas ou públicas, possuindo um caráter aberto, especulativo, diverso e polifônico.

Desde 2016, as Histórias são acompanhadas por um grande catálogo publicado em português e em inglês e uma antologia (somente em português), que reúne textos importantes sobre o tema, incluindo ensaios apresentados durante os seminários internacionais organizados nos anos anteriores em antecipação à exposição.

Serigrafistas Queer: liberdade para as sensibilidades
13.12.2024—6.4.2025
Curadoria: Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP

O coletivo Serigrafistas Queer surgiu durante uma oficina de serigrafia que tinha o objetivo de ensinar ativistas a estampar camisetas para a manifestação do Orgulho LGBTQIA+, em Buenos Aires. Composto por artistas, ativistas e participantes espontâneos, o coletivo combina técnicas de artes gráficas com slogans e frases de protesto que são impressos em faixas, camisetas e peças de tecido. A partir de encontros periódicos, os Serigrafistas Queer promovem discussões sobre o potencial das palavras de ordem provenientes de práticas e discursos dissidentes, estratégias para ampliar a disseminação das inúmeras possibilidades de manifestação dos desejos, além da produção de dispositivos móveis que facilitam as impressões serigráficas e com estêncil. Suas ações ocorrem frequentemente em contextos artísticos, mas é na construção de uma consciência política elaborada nas ruas, durante manifestações e eventos afirmativos das causas defendidas pelas dissidências sexuais e de gênero, que o trabalho atinge a dimensão do ativismo e dissemina vozes em luta. 

O coletivo já participou de duas exposições no MASP: Histórias da sexualidade (2017), no núcleo Ativismos e políticas do corpo, e Histórias de Mulheres, Histórias Feministas (2019). Além disso, 56 obras de sua autoria integram o acervo do museu. A exposição Serigrafistas Queer: liberdade para as sensibilidades é um testemunho da colaboração entre a instituição e o coletivo. A mostra será acompanhada de um programa de oficinas e de um catálogo com ensaios especialmente escritos para o volume.

Sala de vídeo: Manauara Clandestina
13.12.2024—9.2.2025
Curadoria: Leandro Muniz, assistente curatorial, MASP

Manauara Clandestina (Manaus, Amazônia, 1992) é artista visual e estudante de cinema. Filha de pastores, foi criada em missões no interior do Amazonas. Seu contato inicial com a arte se deu com o teatro e a música na igreja, já sua produção surge como uma interpretação da vida noturna na cidade. Seu trabalho com a performance aborda novas perspectivas sobre a existência travesti, questionando as condições que a permeiam a partir de processos de transição de fronteiras e de mergulhos sensíveis que constroem registros íntimos de uma artista nortista. Sua prática edifica construções imaginárias dentro da moda, evocando diálogos que dão luz às subjetividades das corporeidades dissidentes brasileiras. 

Em 2020, sua pesquisa foi desenvolvida a partir do Programa de Residências da Delfina Foundation (Londres, Reino Unido) e, em 2021, no Piramidón - Centro de Arte Contemporânea (Barcelona, Espanha), ambas com o apoio do Instituto Inclusartiz (Rio de Janeiro, Brasil). Em 2021, apresentou duas mostras individuais, Pitiú de Cobra (Delirium, São Paulo) e Saltação (Casa70, Lisboa). Participou de diversas exposições coletivas em importantes instituições, incluindo o IAB SP – Instituto de Arquitetos do Brasil (São Paulo) e o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Em 2022, participou da 75ª edição do Festival Internacional de Cinema de Edimburgo (EIFF) e, em 2023, da 1ª Bienal das Amazônias (Belém, Brasil) e da exposição El tiempo es una ilusión, em Collegium (Arévalo, Espanha).